Minha foto
Teresina, Piauí, Brazil
Associação dos Violeiros e Poetas Populares do Piauí - Casa do Cantador. Fundada em 15 de outubro 1977. Espaço de relevância cultural no Piauí que funciona como Centro de Pesquisa e de apoio a violeiros e poetas populares de vários lugares do Brasil. Localizada na Rua Lúcia, 1419, Bairro Vermelha, Teresina - Piauí - Telefone: (86) 3211-6833 E-mail: casadocantadordopiaui@hotmail.com

quarta-feira, setembro 26

Estrofe da Semana:


O Brasil tá empolgado
Com o Supremo Tribunal
Quem tem culpa é condenado
E vai pagar pelo mal
Que praticou à Nação
E foi feita a distinção
Para quem era inocente
Se fortalece a justiça
Para frear a cobiça
De quem é um delinquente.

ARTE DE POUCA RENOVAÇÃO por Pedro Ribeiro


Uma preocupação que coloca em risco a sobrevivência da Literatura de Cordel, especialmente no Piauí, onde o desaparecimento das gerações envelhecidas supera, em muito, o surgimento de novos talentos, é o desequilíbrio desse fenômeno.
Quando iniciamos o movimento de apoio aos violeiros o número dos artistas de viola era bem expressivo, com quase uma centena de improvisadores, na grande Teresina.
A sequência de morte e o inexpressivo surgimento de novos talentos confirmam essa verdade inquietadora, pois da década de setenta para a atualidade já faleceram cerca de trinta e um repentistas com menos de dez renovações o que, certamente, são dados assombrosos no que concerne a comparação e, sobretudo, a avaliação para o futuro.
Analisar a causa desse fenômeno não é tarefa fácil, quando sabemos da influência da televisão, da música sem mensagem e, principalmente, das drogas que a tudo destroem.
O nosso pressentimento se fundamenta nessa estatística inquestionável. Todavia, nossa esperança ressurge com o Cordel Nas Escolas, pois dezenas de jovens de ambos os sexos revelam talento poético surpreendente.
Por outro lado, temos informações que a renovação nos estados da Paraíba, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte é confortante, com o aparecimento de verdadeiros ases do repente.
Seja como for, esperamos que a Literatura de Cordel que sequenciou a Literatura Oral que vem, desde o despertar das civilizações, permaneça viva como um instrumento cultural capaz de conquistar maior abrangência no campo da comunicação, uma vez que é a única capaz de ser compreendida pelos mais sábios e até os analfabetos.
O empolgante a quantos assistiram ao XXXIX Festival de Violeiros do Norte e Nordeste é a presença de um garoto com apenas cinco anos de idade e já fazendo improviso. Na foto com Pedro Ribeiro tive a oportunidade de testá-lo, convencendo-me de que será um bom violeiro no futuro.

Apesar de todas essas razões negativas ainda temos forças para continuarmos lutando pela preservação do repente e da Literatura de Cordel cuja importância na cultura brasileira e internacional é irrefutável.

domingo, agosto 5

Estrofe da Semana:


O Brasil apreensivo
No processo mensalão
Resultado negativo
Deixa descrente a Nação
Com a palavra o Supremo
Pra julgar um caso extremo
Que abalou o País
Porém se forem culpados
No processo condenados
O povo fica feliz.

O QUE MUDOU NO VIOLEIRO Pedro Ribeiro

Os primeiros anos de minha vida na fazenda Baixão dos Ribeiros, zona rural de Teresina hoje Monsenhor Gil.
Nessa fase adorável de minha infância, tive a oportunidade de conhecer e sentir a beleza do repente que exerceu e continua tendo uma notável importância em meus sentimentos e minhas atividades culturais.
Já falei que foi o agregado de meu pai Luis Nazário, nas viagens feitas, aos sábados, para a feira de Natal que tive o ensejo de apreciar o talento de Serrador e Carneiro num extraordinário duelo em Martelo Agalopado que, ainda hoje, parece cochichar em meus ouvidos.
Não bastasse essa motivação, assisti inúmeras cantorias realizadas nos terreiros dos moradores do sítio-fazenda ou mesmo no patamar de minha residência.
Por outro lado, Deus foi muito generoso comigo, dotando meu pai de especial inspiração cordeliana, pois apesar de não ter sido violeiro para sair duelando em viagens pelo sertão sabia, com sua viola, produzir estrofes encantadoras.
Aliás, meus antepassados ou tinha forte inspiração poética ou davam integral proteção aos escravos e moradores que possuíam habilidade na arte do improviso.
Um dos meus tios conhecido como Mendes possuía um escravo que era um repentista respeitado pelo talento que o capacitava a derrotar os adversários.
Era comum, na época da escravidão que os escravos ao se apresentarem dizer o seu nome, o nome do seu dono e o nome da propriedade na qual residia. Daí o escravo violeiro se apresentava com Anjo Mendes do Condado.
Certa vez, cantava na residência do seu protetor com o famoso repentista Mandapulão quando uma galinha passa correndo em frente à dupla. Era a vez de Anjo Mendes do Condado, improvisar. Vejam que obra-de-arte:

Da galinha eu gosto muito
De certos pedaços dela
Duas asas, duas coxas,
Dois coxões e a titela,
Pescoço com sobrebunda,
Coração, figo e moela.

Naquela época, os violeiros andavam de fazenda em fazenda, geralmente, com chapéu de couro, cantando para os coronéis ou eram convidados por proprietários que os mandava busca-los em montarias de cavalos ou burros.
Tudo mudou. Os atuais ases do repente andam de carro próprio, de avião ou mesmo de ônibus, participando de festivais ou realizando cantorias a preço justo.
Destaque-se também que os violeiros analfabetos estão em extinção e, uma boa parcela deles já cursou ou cursa as universidades.

sexta-feira, julho 13

Estrofe da Semana:


A corrupção no País
Cada vez mais poderosa
É força destruidora
Que já se tornou famosa
Envolve até os poderes
Na inversão dos deveres
Exigindo cassação
Que valoriza o Senado
O povo diz obrigado
Com toda satisfação.

NASCI OUVINDO REPENTE por Pedro Ribeiro


Tive a felicidade de nascer dia de São Pedro, 29 de junho do ano de 1931, no povoado Baixão dos Ribeiros do município de Teresina hoje Monsenhor Gil.
O detalhe importante da questão é que vim ao mundo ás 18 horas quando meu Pai ascendia a fogueira e os violeiros afinavam as violas para o grande embate do repente.
Destarte, já nasci ouvinte de repente e, com as Graças de Deus, me apaixonei por essa cultura popular que, cerca de 40 anos, preenche minha vida.
No local onde residia moravam dois violeiros: Leocádio e João de Lima que realizavam cantorias todos os sábados, durante o dia e à noite, no terreiro dos moradores da fazenda.
Tive uma infância feliz, acumulando sonhos e traçando planos para o futuro, uma vez que sempre projetei deixar o sertão e cursar os bancos escolares e penetrar nos meandros da arte e da cultura.
Outro capítulo de minha vida me encaminhava para abraçar a cultura popular muito praticada no Baixão dos Ribeiros como: Bumba-Meu-Boi e Reisado, em cujas manifestações tive a oportunidade de integrá-las.
Por volta de 1937, todos os sábados meu Pai mandava um dos seus homens de confiança ─ Luis Nazário ─ vender frutas e rapaduras na feira do povoado Natal hoje cidade de Monsenhor Gil.
Luis Nazário pedia a meus pais para me levar em sua companhia, alegando que eu era um menino esperto e o ajudaria muito nos negócios.
A viagem era muito divertida e, durante o trajeto, Luis Nazário canta as grandes pelejas da época, especialmente, a travada entre Serrador e Carneiro. De tanta repetição consegui decorá-las como formadoras do meu patrimônio cordelista.
Ainda parece ecoar em meus ouvidos:

Carneiro:
Serrador me diga com qual intenção
Você veio aqui sem documento
E quem foi que lhe deu consentimento
Para entrar sem minha ordem no sertão
Nesta terra me conhecem por Sultão
Da cidade de Crato ao Seridó,
Cajazeiras, Rolim e Piancó,
Da Cidade de Marcos à Catingueira,
Em Pombal, Catolé, Patos e Teixeira,
São lugares que o Carneiro brinca só.

Serrado:
Carneiro velho esteja enganado
Que não existe sultão em nossa terra
E no deserto de nossa grande serra
Outro cantor para mim tem escapado
Cantador muito velho habilitado
Em meus pés tem pedido a pabulagem
Homem novo, instruído de coragem,
Tem posto em grande desespero
Uma vez que eu dando em dez carneiro
Ainda não digo a ninguém que fiz vantagem.

Com essa origem humilde e poética eu não poderia me libertar desse mundo cultural que me envolveu. Foi uma decisão da natureza que montou um cenário especial para me acolher no mundo da arte.

sexta-feira, junho 29

Estrofe da Semana:

Redescobrindo o Cordel
Do SESC patrocinado
É um trabalho fiel
Vitória do alunado
Caminho para crescer

O futuro acontecer
Na conquista do sucesso
Pro aluno evoluir
E a nação progredir
Para implantar o progresso.
        (Pedro Ribeiro)

SESC E CORDEL por Pedro Ribeiro

A contribuição que o SESC vem dando ao Cordel no Piauí, já produziu bons frutos. O projeto “Redescobrindo o Cordel” ministrado em parceria com a Associação dos Violeiros e Poetas Populares do Piauí e Ponto de Cultura “Casa do Cantador” já realizou vários cursos nas Unidades Escolares do Estado e do Município.
Os resultados são impressionantes e o alunado que já teve a oportunidade de participar dos cursos apresentou uma melhoria tanto na arte de fazer versos como no desenvolvimento da mente cuja criatividade e agilidade mental do estudante sofreram verdadeira evolução.
O “Cordel nas Escolas” é hoje apresentado em vários estados da federação com experiência implantada no exterior onde os resultados são também excelentes.
O que os governos devem fazer é encarar a experiência com toda seriedade no sentido de que não se perca essa oportunidade de oferecer aos nossos jovens o ensejo de melhoria da mente em face da superioridade da capacidade de memória, juízo, raciocínio, criatividade e agilidade mental, colocando o Brasil no mais alto patamar da cultura cordeliana.
Não temos informação se o projeto “Redescobrindo o Cordel” está sendo ministrado em outros estados da federação. Destarte, vamos pedir informações nesse sentido porque consideramos o projeto em referência uma das mais preciosas colaborações que o SESC está proporcionando ao País.
A Unidade Escolar Cristino Castelo Branco que foi agraciada com o projeto Redescobrindo o Cordel tem um carinho especial pela poesia cordelista.
Um jornalzinho elaborado por professores e alunos circula no colégio com ideias de adultos para mostrar a desenvoltura do alunado.
A professora Josefina Ferreira – cordelista do Piauí – escreve o editorial que temos a satisfação de transcrever.

EDITORIAL
Peço atenção do leitor
Para o que quero dizer
A leitura e a escrita
São caminhos para vencer
É na escola que se busca
Aprender ler e escrever.

A leitura é desafio
Que a escola deve enfrentar
É o caminho mais seguro
Para o mundo conquistar
Aproveite para ler
Nosso Jornal Escolar.

Sem domínio da leitura
Não é fácil redigir
Alunos e monitores

Buscam juntos construir
E um jornal para a escola
Acabam de produzir.

Procure ler com carinho
A produção do estudante
O que escreveram aqui
Eu considero importante
É o caminho que os leva
A ter futuro brilhante.

Cristino Castelo Branco
Recebe com emoção
Jornalzinho produzido
Com muita dedicação
E os alunos que escreveram
São do Mais Educação.

segunda-feira, junho 25

Estrofe da Semana:

O Piauí se prepara
Para os folguedos juninos
A grande festa do povo
Orgulho dos nordestinos
Na Praça do Albertão
Uma grande multidão
Foi montada uma estrutura
Para o desfile da arte
Com grupos de toda parte
Enaltecendo a cultura.

XXXVI FOLGUEDOS por Pedro Ribeiro

Teresina abre as portas da cultura popular para abrigar o maior encontro de folguedos do Nordeste realizado no Piauí.
Representantes do País e de quase todo nosso Estado, no período de 24 a 30 de junho na praça de esportes do Albertão, transformarão Teresina na capital do folclore.
De todas essas manifestações, a quadrilha foi a que sofreu maiores modificações. Os vestidões de chita se transformaram em verdadeiras fantasias de luxo com a preocupação de conquistar as plateias pela ornamentação
 As narrativas dos tiradores de quadrilha se transformaram em shows musicais, em ritmo quente capaz de contaminar os presentes, além da movimentação dos integrantes, também em ritmo quente com bastante entusiasmo.
Os folguedos representados por diversos gêneros folclóricos permanecem atraindo multidões pelo natural gosto artístico.
Cada tipo de apresentação tem seu público predileto. Do violeiro ao bumba-meu-boi, cada qual ocupando os espaços específicos de cada gosto.
A presidente da FUNDAC – Bid Lima não mediu esforços e montou uma equipe capaz de preservar a tradição que o Piauí conquistou no cenário nacional.
Desse modo, podemos afirmar que a importância do Piauí no cenário folclórico brasileiro está mantida e, certamente, com o brilhantismo de sempre.
A importância do folclore é, acima de tudo, permitir que as gerações novas assumam o lugar dos idosos para dar continuidade de cada gênero conservando o que há de característico específico de cada espécie, embora com sensíveis alterações que não modifiquem o essencial de cada gênero.
Falamos de algumas alterações entre passado e presente, mas sem destruir a estrutura básica de cada estilo, pois as quadrilhas de ontem e de hoje não se anulam pelas modificações introduzidas, pelo contrário, se tornaram mais bonitas.
A notável importância dos folguedos está confirmada pela presença das multidões que atraem, movimentando, inclusive, as atividades comerciais para melhoria de renda de muitas famílias.
Que seria de um povo sem suas manifestações culturais que desafiam os tempos na manutenção de suas tradições folclóricas.
 Confiamos e acreditamos que o Piauí continuará realizando essa página de beleza e de cultura que muito tem projetado o Piauí no cenário cultural do Brasil.

segunda-feira, junho 18

Estrofe da Semana:

No meu sertão sem inverno
A vida fica mais dura
Tudo parece um inferno
Sem feijão e rapadura
As roças todas perdidas
As cacimbas ressequidas
O povo passando fome
Com os animais morrendo
Todos estão padecendo
Criança chora e não come.

FOLGUEDOS DO PIAUÍ por Pedro Ribeiro

A Fundação Cultural do Piauí – FUNDAC iniciará no dia 24 de junho, na Praça de Esportes do Albertão, o XXXVI Encontro Nacional de Folguedos do Piauí.
Desde a primeira edição que a festa se constitui no maior acontecimento folclórico do Piauí com a participação de todo o Estado e representantes de várias Unidades do Nordeste.
Com a construção da Poti Cabana o evento passou a ser realizado naquela praça de esportes. A afluência de público quebrava todos os recordes de plateia e, deixava transparecer que jamais poderia mudar de local.
Todavia, com a reforma iniciada para recuperação da Poti Cabana, a preocupação dos dirigentes da FUNDAC era encontrar um local capaz de abrigar o evento com a mesma dimensão do anterior.
Foi uma surpresa agradável a Praça de Esportes do Albertão que, além de ter correspondido às expectativas, parece que não terá, pelo menos por enquanto, local que substitua com o mesmo brilhantismo.
Além de espaçosa, a Praça de Esportes do Albertão é mais central e oferece melhores condições de tráfego às delegações que se deslocam do Norte e do Sul do Estado, quer em se tratando de participantes do Piauí, quer delegações provenientes de outros estados do Nordeste, uma vez que o eixo rodoviário constituído das BRs 316, 222 e 343 cujo cruzamento é a atual praça de esportes.
Os folguedos foram lançados no Clube dos Diários com excelente participação de produtores culturais que tiveram a oportunidade de assistir uma ligeira amostra do que será a XXXVI edição.
A presidente da FUNDAC Marlenildes Lima da Silva (Bid Lima) fez uma bela exposição do evento que, inegavelmente, é orgulho para o nosso Estado que, a cada ano, mostra o poder e a competência dos seus organizadores. 
Previsto para o período de 24 a 30 de junho – o maior acontecimento folclórico do Estado comprovará, mais uma vez, a importância do evento para a cultura do Piauí e do Brasil.
Este ano a predominância das apresentações é do Piauí com destaque especial para as quadrilhas e bumba-meu-boi.
O Norte e Nordeste estão presentes com as atrações culturais dos estados do Pará, Maranhão, Paraíba e Sergipe.
A estreia está prevista para a noite do dia 24 de junho no parque esportivo do Albertão com apresentações do Piauí e Pernambuco.
O espetáculo tem sequência na segunda-feira com grupos folclóricos do Piauí, Pará e Maranhão.
As apresentações serão sequenciadas com encerramento no dia 30 de junho com a presença do Piauí, Pará, Maranhão e Sergipe.
É oportuno destacar que a direção dos folguedos presta homenagem a Luiz Gonzaga – incontestavelmente a maior expressão do Forró do Brasil.

sexta-feira, junho 8

Estrofe da Semana:

A festa dos violeiros
Foi uma consagração
Com coquetel e repente
Na maior animação
Na Casa do Cantador
Com vate improvisador
Para enaltecer com arte
O grande acontecimento
Nobreza de sentimento
Que a beleza reparte.

DIA DO VIOLEIRO por Pedro Ribeiro

Já é uma consagração internacional a indicação de datas, no calendário, representando determinada categoria ou grande acontecimento, santos, pessoas ou entidades.
Destarte, comemoramos o dia das mães, dia dos namorados, dia dos pais, dia da criança, dia de São Pedro, etc.
A classe de violeiros, desde muitos anos, vinha lutando pela confirmação do seu dia e, mais do que isso, do reconhecimento da profissão.
Essa conquista foi alcançada com o projeto do vereador Carlos Silva da Câmara Municipal de Teresina que elaborou o projeto de lei votado por unanimidade criando o DIA DO VIOLEIRO – 03 DE JUNHO.
Foi uma vitória jamais esquecida, pois ficou marcada na sensibilidade dessa gente humilde e simples que, tantos serviços tem prestado à Cultura Popular.
O dia escolhido representa o nascimento do maior dos repentistas da Literatura de Cordel do Piauí – Domingos Martins da Fonseca admirado e respeitado pelo Brasil inteiro.
O vate piauiense além de dominar, com raro brilhantismo, a arte de improvisar foi uma liderança inquestionável que lançou os primeiros esforços para organização da classe.
Nesse sentido, fundou e dirigiu a Associação dos Cantadores do Nordeste – ACN construída em Fortaleza que até nossos dias presta relevantes serviços a classe graças a atuação permanente de Dimas Mateus – um braço forte e um líder valioso dos repentistas.
A data vem sendo comemorada, na Casa do Cantador, sob a direção da Associação dos Violeiros e Poetas Populares do Piauí, com o objetivo do maior congraçamento dos nossos violeiros.
No último domingo, mais uma vez, a festa reuniu vários violeiros, familiares e convidados especiais para a harmonização da classe.
Diferente dos anos anteriores, o presidente da Instituição delegou poderes aos associados os quais se reuniram, escolheram uma comissão formada somente por violeiros para organizarem e realizarem a festa.
Foi uma experiência notável que deverá ser mantida para o futuro, em face do brilhantismo alcançado, além da organização impecável e o entusiasmo como todos se sentiram.
O acontecimento foi iniciado as 16h00 com a palavra do presidente da AVIPOP – Pedro Mendes Ribeiro que fez uma completa exposição das dificuldades e das conquistas que a classe vem conseguindo, destacando o resgate total da Literatura de Cordel no Brasil e no mundo.
A festa teve prosseguimento com coquetel servido aos presentes seguido de apresentações de duplas de violeiros que duelaram sob os aplausos da plateia que solicitarou estilos, canções e motes, enquanto os vates se revezavam no palco “Josafá de Oliveira”.
Foi uma festa inesquecível cuja organização será mantida para o futuro.
Prestigiaram as comemorações: Joaquim Mendes Sobrinho – JOAMES, Maria Viana, cordelista Josefina, violeiros: Aureliano dos Santos, Manoel Lucas, José Edimar, José Maurício, Nonatinho, Raimundo Britto, Toinha Brito, Maria Ferreira, Cícero Alves, Antonio Marcos, Agamenon e Zé Barbosa.

sexta-feira, junho 1

A MORTE NÃO É O FIM por Pedro Ribeiro

Antonio Pereira de Sena era um policial militar reformado, integrante dos quadros da gloriosa Polícia Militar do Piauí. Foi destacado como delegado em vários municípios do Piauí.
No exercício da difícil missão, Sena como era conhecido, não deixou inimigos por onde passou porque, no comando de suas funções, a meta era cumprir a lei, sem perseguições e violência.
Dia 21 de maio participava de um aniversário quando se sentiu mal e, pouco depois era vítima de violenta parada cardíaca.

Com cada amigo que morre
A gente parte também
É Lei Sagrada de Deus
Que ao destino convém
Todos nós somos mortais
Nem é menos, nem é mais,
Que vivemos nesse mundo
O destino marca o tempo
Partimos qualquer momento
Num sentimento profundo.

Quando em nossa juventude
Tudo é flor, é novidade,
Pois esbanjamos saúde
No palco da mocidade
Não nos preocupa a sorte
E nem pensamos na morte
Já qu’a vida é maravilha
Nossa vida é o presente
Alegres, sempre contente,
Pois o futuro nos brilha.

Mas surge o passar dos anos
Trazendo interrogações
Com lutas e desenganos
Modificando as ações
É inversão do passado
Novo caminho traçado
Pra construir o futuro
Com mulher, filhos e netos,
Formatar outros projetos
Pro novo mundo seguro.

A caminhada do Sena
Construída com sucesso
Com atitude serena
Edificando o progresso
Um militar de valor
Caráter superior
Com invulgar dignidade
Honrou sua profissão
Com toda dedicação
Com imparcialidade.
A vida é uma passagem
Para percorrer o mundo
Construir uma mensagem
Do simples para o profundo
Para difundir o amor
Na pregação do Senhor
Com a paz para esperança
Vivendo para irmandade
Pregando a fraternidade
Espalhando confiança.

Sena era muito admirado
Para cumprir seu dever
E por todos respeitado
Pelo que tinha a fazer
Amigo, simples, fiel,
Perdi o meu coronel
Não praticava injustiça
Por todos tinha respeito
Honesto, amável, direito,
Sem s’afastar da justiça.

Aonde foi destacado
Apenas deixou amigos
Seu trabalho elogiado
Sem arranjar inimigos
Sempre impunha sua ordem
Dirigia sem desordem
Pois sabia comandar
E todos lhe obedeciam
Porque todos lhe queriam
Dia e noite a trabalhar.

Quem sabe plantar o bem
Distribuir amizade
Receberá recompensa
Com toda amabilidade
Na terra foi um troféu
Foi recebido no céu
Pelo trabalho que fez
Jamais será esquecido
Vivo ou morto aplaudido
Com respeito e altivez.
Sena deixa uma família
Mergulhada na tristeza
Entre choro, dor e lágrimas,
Numa triste realeza
No suplício da saudade
Só Deus com sua bondade
Pode trazer o conforto
De um novo entendimento
Na inversão do momento
Na concepção do morto.

Sena partiu, mas deixou,
Edite pra comandar
Três filhas; Helizoleide,
Helenilza pra somar
E Helizeuda completa
Paulo Rosa faz a meta
Com outro genro Paulinho
Paula Camila e Vitória
Paula e Artur fazem glória
Eduarda são netinhos.

Se a morte fosse o fim
A vida não tinha brilho
Jesus foi Mestre e filho
E a todos falou assim:
Não se esqueçam de mim
Que lhes darei o perdão
Ouvirei a oração
Que for a mim dirigida
Depois da morte outra vida
Para glorificação.

sexta-feira, maio 25

DOIS GIGANTES EM DUELO por Pedro Ribeiro

O repentista é o indomável e autêntico poeta do sertão. A poesia popular que muitos desconhecem seu valor e complexidade em sua feitura é a mais genuína manifestação da alma sertaneja.
Escrita ou improvisada, a poesia popular obedece a mais rigorosa métrica, sendo desde os primórdios a nosso dias, elaborada com rigor e perfeição. Daí porque alguns preferem a poesia moderna que não exige, nem rima, nem métrica e, observam, pura e simplesmente, o assunto.
Não a desvalorizamos como fazem muitos que desqualificam e menosprezam a poesia popular, rica em mensagem e métrica que a torna mais bela e mais atraente.
Vejamos um encontro com dois dos maiores repentistas da atualidade: Ivanildo Vila Nova e Severino Feitosa, os quais já estiveram diversas vezes no festival de Teresina. Apreciemos o encontro de ambos:

 SF.-    Se é de grande cidade
Criou-se em outro ambiente,
Talvez não botou a sela
Num burro novo e valente,
Que dá mordida na brida
Pensando que é na gente.

IVN.-    Não precisei de lição,
De cópia nem de ditado,
Aprendi olhando o pássaro,
O céu, a floresta, o gado,
Entrei lá analfabeto
E saí de lá formado.

SF.-    Você em Caruaru
Se criou sem alvoroço,
Talvez que nunca apanhou
Água gelada num poço,
Sentindo o pau do galão
Machucando o seu pescoço.

A criação de novos estilos de cantoria ocorre a cada instante, especialmente, com a utilização de motes. Vejamos como os preliantes se batem no estilo – Rojão Quente – oriundo do mote: Comigo o rojão é quente / Canta quem souber cantar.

IVN.-    Antes que apareça mote,
Poema, rojão e glosa,
Eu quero ver se Feitosa
Aguenta também meu trote,
Saber se seu holofote
Tem claridade estrelar
E dá água no seu mar
E cabe meu barco potente,
Comigo o rojão é quente,
Canta quem souber cantar.

SF.-    Não gosto de exageros,
Não tenho sangue de persa,
Muito menos de conversa
De qualquer um bagunceiro,
Não quero que o companheiro
Venha me desafiar,
Eu aqui neste lugar
Só tenho amigo e parente,
Comigo o rojão é quente,
Canta quem souber cantar.

IVN.-    Sua voz é de tenor
E sua presença é de artista,
Você como repentista
Pode até ter um valor,
E com outro cantador
Você pode até triunfar,
Mas é bom se incomodar
Quando me vê pela frente,
Comigo o rojão é quente,
Canta quem souber cantar.

SF.-    Se você possui cuidado
No papel de cantador,
E se acaso o colega for
Hoje decepcionado,
Regresse pra seu estado,
Pode até se preparar,
E quando um pouco decorar,
Venha que estou novamente,
Comigo o rojão é quente
Canta quem souber cantar.

IVN.-    Eu devia cobrar taxa
E além de taxa o juro,
Pra cantador sem futuro
Que comigo se esborracha
Pois hoje aqui você acha
Um santo pra seu altar,
Água pra seu alguidar
E vinho pra sua corrente,
Comigo o rojão é quente,
Canta quem souber cantar.

SF.-     Você teve algum cartaz
Naquele tempo passado,
Mas foi desclassificado
Em diversos festivais,
Hoje em dia está pra trás
Que nem sabe mais falar,
Antes era titular
E hoje é reserva somente,
Comigo o rojão é quente,
Canta quem souber cantar.

IVN.-    Mas eu achei que seu dito
Foi muito mal empregado,
Só fui desclassificado
Em São José do Egito,
Mas não me deixou aflito
Nem me tomaram o lugar,
Não digo que foi azar
Pois foi marcação somente,
Comigo o rojão é quente
Canta quem souber cantar.

SF.-    Eu que tenho poesia
Pra cantar a vida inteira,
Porque a minha bandeira
Desfraldada é mais sadia,
E tenho em minha companhia
Jesus pra me ajudar
E você para escapar
Não vai dizer que é gente,
Comigo o rojão é quente,
Canta quem souber cantar.

sexta-feira, maio 18

ANJOS DA VIDA por Pedro Ribeiro

A semana de 12 a 20 de maio é consagrada às comemorações da Enfermagem. Uma categoria que presta os mais relevantes serviços à humanidade em qualquer lugar do mundo.
A enfermagem tem a responsabilidade de cuidar dos doentes. Em seu trabalho diário dedica seus conhecimentos e amor para salvar os pacientes sob suas responsabilidades.
Às mais das vezes, os profissionais da saúde são agredidos e humilhados por acompanhantes que não compreendem o esforço de quem dá tudo de si para salvar vidas.
Já estive hospitalizado e testemunhei a dedicação desses anjos da vida. Na semana em que se comemora a ENFERMAGEM dedico-lhes esse poema que escrevi com as lágrimas dos olhos e o amor do coração.

Os anjos foram criados
Para proteção da vida
E são por Deus consagrados
Para uma luta renhida
Expressão maior do amor
Enviados do Senhor
Como fonte de esperança
Para construir a paz
No seu trabalho capaz
De transmitir confiança.

À noite quando dormimos
Eles fazem proteção
Sua presença sentimos
Com grande dedicação
Quando num leito de dor
Nos tratam com muito amor
Na batalha contra a morte
Num esforço gigantesco
Sorriso camaradesco
Como quem oferta a sorte.

Mesmo na hora da morte
Eles prometem a vida
O remédio é o suporte
Numa expressão tão querida
Passam noites acordados
De vez em quando chamados
Para nos vir socorrer
Troca soro, traz remédio
É Deus por seu intermédio
Que até nos faz reviver.

Ao procuramos o médico
Ficamos preocupados
Não sabemos a doença
Ou se seremos curados
Em um leito de hospital
Às vezes, passando mal,
Só nos resta a enfermagem
Que com amor e carinho
Nunca nos deixa sozinho
Num trabalho de coragem.

Com muita dedicação
No seu trabalho diário
Muitos passam precisão
Por ser miséria o salário
Pra sustentar a família
Passam noites em vigília
E nem são compreendidos
Nem a mensagem que trazem
Pelo trabalho que fazem
Pra nos fazer assistidos.

O jaleco que os cobrem
Traz a brancura da paz
Simbolizando o carinho
De tudo quanto se faz
Numa missão gloriosa
Muitas vezes milagrosa
Que supera até a morte
Numa inversão de valores
Acalentam nossas dores
Da saúde é o suporte.

Às vezes, também doentes,
Ainda vão ao serviço
E se sentem tão contentes
Num esforço arrojadiço
Correndo pra salvar vidas
Passam noites indormidas
Consolidando ideal
Na luta para salvar
Ou então amenizar
Aquele que passa mal.

Pela dor do desespero
Paciente é agressivo
Desconhecendo o trabalho
Sem conhecer o serviço
De quem lhe leva saúde
Na mais singela atitude
Para a doença curar
Nem sempre recompensados
Até mesmo maltratados
Com desejo de humilhar.

A luta hospitalar
No Brasil é complicada
Hospitais superlotados
E uma luta travada
Mais doente do que vaga
Pra enfermagem é mais carga
Num esforço concentrado
Com cenas horripilantes
Que assustam os visitantes
Sem política e resultado.

Prestamos nossa homenagem
Para os anjos do amor
Componentes da enfermagem
Com competência e valor
Que Deus lhes dê proteção
Pra maior dedicação
Na caminhada que salva
Sempre cumprindo o dever
Diminuindo o sofrer
Pois a nossa vida olhava.

sexta-feira, maio 11

ROGACIANO LEITE por Pedro Ribeiro

Estrela cintilante da constelação da poesia, Rogaciano Leite conviveu com a extraordinária safra na qual Domingos Fonseca despontava como a maior expressão do repente da época.
O congresso de cantadores realizado em Fortaleza, em 1948, projetara Domingos Fonseca para a imortalidade e foi exatamente nessa época em que Rogaciano Leite convivia com a fase de ouro do repente e o colocava num pedestal não inferior as estrelas do presente.
De uma formação cultural invejável, depois de ler Castro Alves, Gonçalves Dias, Fagundes Varela, Guerra Junqueiro, Cruz e Sousa e Olavo Bilac foi o suficiente para formar um manancial de invejável cultura poética.
No repente se bateu com os maiores astros do momento com destaque de Domingos Fonseca ao Cego Aderaldo. Nas cantorias que participava tinha pelos colegas o maior respeito.
O jornalista Carlyle Martins se refere a Rogaciano Leite com tanto entusiasmo que transcrevemos sua opinião para melhor análise dos nossos leitores.
“A Musa de Rogaciano Leite veste-se da seda brilhante e colorida das alvoradas e põe nos cabelos os grampos das estrelas e as fitas têm as tonalidades dos crepúsculos.
É ele um emérito improvisador, dizendo versos a propósito de tudo, como um verdadeiro perdulário da inteligência e da imaginação. Derrama cascatas de rimas com uma simplicidade e galhardia que faz a gente vibrar de emoção.
Seus versos ora têm marulhos de oceano, ungidos de tempestades, gritos de ventania, sonoridade de clarins; ora possuem claridade de luar, trinados de pintassilgos, amavios de graúnas, sons de cânticos de sinos, tatalar de asas de seda…”.
Na noite brilhante do Teatro José de Alencar que projetou o piauiense Domingos Fonseca, estava presente Rogaciano Leite, improvisador do maior respeito. Nessa mesma ocasião encontrava-se presente o desembargador Faustino de Albuquerque, governador do Ceará.
Não se sabe por que razão Diegues Júnior deu o mote: Desembargador Faustino / Barbalha lhe pede estrada.
Rogaciano Leite, como todo poeta, não se preocupou com a presença do mandatário cearense e glosou o mote:

“Pobre Barbalha há cem anos
Vive a indiferença exposta,
Se pede tem por resposta
Centenas de desenganos…
Seus filhos fazem mil planos
Porém se reduzem a nada,
De canavial cercada
Chora por seu descortino,
Desembargador Faustino,
Barbalha lhe pede estrada…”

Rogaciano não era apenas um improvisador respeitável e imbatível, mas um poeta dos mais admirados. Seu talento e glória o tempo não apaga e permanecerá em nossas memórias, relembrando as noites memoráveis de seus embates nos gemidos das violas ou na leitura de seus poemas inesquecíveis. Dentre eles vejamos “Ceará Selvagem”:

 Aqui por estas areias
Já correram muitos pés…
Estalaram muitos arcos,
Vibraram muitos borés…
Estes garbosos coqueiros
São fantasmas de guerreiros
Que o tempo não quis matar!
Estas palmeiras delgadas
São índias apaixonadas
Por homens brancos do mar!

Oh! Iracema formosa,
Deusa da raça praiana,
Teu colo emprestou perfume
Às águas de Mecejana!
Meruoca ainda delira…
Maranguape ainda respira
Fragrâncias do teu calor!
Teu pé trigueiro e pequeno
Sobre o rastro de Moreno
Deixou um cheiro de flor!

Oh! Quantos sonhos de virgem
Na tua alma caboca!
Quanto sabor de mangaba
Na concha da tua boca!
Teus braços eram roliços
Como os viçosos caniços
À margem fresca do rio…
Teus olhos eram brilhantes
Como os olhos faiscantes
De algum veado bravio.

Tua fileira de dentes
Exprimia tanta alvura
Como um rosário de estrelas
No colo da noite escura!
Tuas mãos eram pequenas,
Bonitas, quentes, morenas,
Macias como os arminhos,
E no vale dos teus seios
O luar tonto de enleios
Se desfazia em carinhos.

Os campos guardam segredos
Do teu corpo casto e nu,
Banhado na linfa clara
Da linda bica do Ipu!
Teu porte inda vive oculto
Na sombra meiga do vulto
Do coqueiro-catolé…
E a areia branca da praia
Ao cair do sol desmaia
Com saudade do teu pé!

sexta-feira, maio 4

Estrofe da Semana

Professores fazem greve
Alunado sem escola
Esperamos seja breve
Essa luta sem degola
Quem ganha super salario
Não enxerga proletário
E nem conhece razão
Não olham para o futuro
Eu afirmo, digo e juro
Que importa educação?

ENCONTRO DE GÊNIOS por Pedro Ribeiro

Antonio Marinho e Pinto do Monteiro foram figuras de maior destaque na constelação que iluminou a poesia nordestina, no passado, que o tempo levou.
Verso fácil e talento inigualável, ambos foram festejados pelos amantes do repente. Seja qual fosse o parceiro, a cantoria já recebia uma plateia especial e o encontro era aplaudido e comentado em toda região.
O difícil ao crítico, por mais conhecedor e profundo, é saber e distinguir qual o melhor, o mais profundo, o mais improvisador e de maior talento.
Nos incontáveis encontros que realizaram, enfrentando os maiores cantadores da época, tanto Marinho como Pinto, foram sempre destacados como os melhores.
A nova geração de repentistas ainda guarda o maior respeito e admiração pelas estrofes luminares que produziram.
Registramos, para conhecimento dos nossos leitores, um dos encontros dos gênios do repente:

P.-    Senhor Antonio Marinho,
É chegada a ocasião,
Pergunto, quero saber,
Responda se posso ou não,
Ir atravessar cantando,
Pelo seu Alto sertão.

AM. -    Pode seu Pinto, pois não!
Tocar, cantar por aí…
É filho da mesma terra,
Nasceu e criou-se ali,
Mas cuidado com as raposas,
Que há muitas lá, como aqui.

P.-    Aonde eu chego não há
Prazer que não me apareça,
Raposa que não se esconda,
Brabo que não me obedeça,
Letrado que não me escute,
Cantor que não endoideça.

AM. -    Pinto, quem canta comigo,
Faz exame e se confessa,
Eu zangado não abrando,
Mesmo que um santo me peça,
Se houver mais pinto apareça
Pois este eu pelo depressa.

P.-    A mim o fogo não queima,
Nem tosta e nem me sapeca,
Em mim quem botar a mão
Larga o couro da munheca,
Incha os dedos, cai as unhas,
Murcha os nervos, o braço seca.

AM. -    Para o meu lar sertanejo
Cantor que vem se arrepende,
Encontra os becos tomados,
Pra toda banda que pende,
E, ai do pinto que eu pegá-lo,
Só Deus como pai defende.

O desafio dos dois gigantes do repente prossegue em ritmo cada vez mais empolgante, deixando a plateia presente verdadeiramente empolgada. Pinto reinicia a porfia:

P.-    Marinho, onde eu passo deixo,
Qualquer uma estrada aberta,
Cantor tendo essa notícia,
Com medo de mim se aperta,
Deixa a casa, entra no mato,
E a meia noite deserta.

AM. -    Monteiro, Prata, Boi velho,
Mais São Thomé e, enfim,
Em São José do Egito

E o que mais pertence a mim,
Um galo até não se arruma,
Quanto mais um Pinto assim.

P.-    Eu chegando em São Thomé,
Acabo com aquela asneira…
Monteiro, Prata, Boi velho,
Um ano não tem mais feira
E se eu for a São José,
Chove pau, pinga madeira.

A peleja não se encerra e continua em tom desafiador, colocando os preliantes numa batalha cada vez mais renhida.

P. -    Não precisa tanto assim,
Vir grande, médio e miúdo,
Pois não convém chegar tudo,
Um pinto só lhe dá fim,
Bom, sofrível, e ruim,
Não precisa aparecer,
Vejo seu corpo tremer
Com as bicadas de um pinto
E pelo jeito eu já sinto
O senhor esmorecer.

quinta-feira, abril 26

JOÃO FURIBA ou JOÃO MENTIRA por Pedro Ribeiro

João Furiba é um dos maiores repentistas que o Brasil e, em particular o Nordeste aplaude. Pernambucano, da gema, começou a cantar em 1944, no despertar da juventude.
No início de sua carreira já assombrava pelo talento e coragem de enfrentar os mais afamados vates da época.
Furiba cantou com Pinto do Monteiro, Sebastião da Silva, Moacir Laurentino e tantos outros da grande constelação de violeiros.
Vate pernambucano que já está em fim de carreira pelo peso dos anos e, sobretudo, um vate vontadôso que enfrenta todas as dificuldades e não se deixa abater pela velhice.
Seu estilo ficou famoso pela maneira do autoelogio onde se apresenta como muito rico e conquistador.
Nas oportunidades em que se apresentou no Teatro de Arena, conquistou os maiores aplausos quando improvisava estrofes se dizendo mais rico que o compadre João Claudino a quem emprestava somas fabulosas.
Esse estilo de cantoria lhe coroou com a pecha de João Mentira hoje conhecido em todo o Brasil. À verdade, porém, é que João Furiba foi e continua sendo um excelente improvisador.
Certa vez, cantando com Manuel Laurindo que terminou uma estrofe afirmando sua admiração pelo “o tigre da mão chata”. Furiba sapecou essa imortal sextilha, peça obrigatória no arquivo das obras geniais.

“Eu admiro é a barata
Saber voar e correr,
Chega na lata de açúcar
Bate um baião pra comer,
O que come é muito pouco,
Mas bota o resto a perder.”

Furiba duelava com o famoso e imbatível Lourival Batista que aproveitou da ocasião para criticá-lo em virtude de se fazer acompanhar da esposa e terminou uma estrofe: “Não gosto de homem que anda / Com a mulher por toda rua.”.

Furiba mostra sua genialidade, improvisando essa obra de arte:

“Pra não fazer como a tua
Que fica em casa sozinha,
Entra homem pela sala,
Sai homem pela cozinha,
Eu como sou desconfiado
Pra onde vou, levo a minha.”.

Numa peleja com Pinto do Monteiro, Furiba, deixando de lado a mentira, falou que havia casado mesmo. Pinto não perdeu tempo e improvisou:

“Sei que sua esposa é
Honesta, educada e forte,
Talvez seja a mais bonita
Da Paraíba do Norte,
Eita Furiba feliz,
Ô moça pra não ter sorte!”.

Ivanildo Vila Nova considerado o melhor repentista do Brasil cantava com João Furiba e quis esnobar supremacia terminando uma estrofe: “Já estou ficando velho / De dar em cantor ruim.”.
Ivanildo é filho de José Faustino Vila Nova e nunca imaginou que chamar João Furiba de cantor ruim estaria despertando um gigante perigoso. Furiba retrucou:
“Teu pai também era assim
E se dizia professor,
Tudo que lia decorava,
Usava anel de doutor,
Cantou trinta e cinco anos,
Morreu sem ser cantador.”.

Como surgiu a fama de João Mentira? Moacir Laurentino cantou diversas vezes com João Furiba. Nos festivais de Teresina Moacir fazia a plateia delirar com as interrogações de Laurentino e as respostas de João Mentira. Moacir interroga: “Me responda como vai / Na criação de caprinos.”.

Furiba sapecou a resposta:

“Tenho quinhentos meninos
Morando em minha choupana,
Tratando da criação
Com capim de gitirana,
Tem cabra que está parindo
Duas vezes por semana.”.

Furiba continua sendo um improvisador genial. Certa vez Antonio Barbosa o provocou com uma sextilha que termina: “Da região do Sumé / Seu pai foi o maior corno.”.

Furiba cuja mãe já havia falecido não perdeu a calma e revidou:

“Por causa de um café morno
Mamãe terminou morrendo,
Se pai foi corno não é,
Você continua sendo,
Se meu pai foi não sabia,
Você é corno sabendo.”.

quinta-feira, abril 19

JOÃO FURIBA ou JOÃO MENTIRA por Pedro Ribeiro

João Furiba é um dos maiores repentistas que o Brasil e, em particular o Nordeste aplaude. Pernambucano, da gema, começou a cantar em 1944, no despertar da juventude.
No início de sua carreira já assombrava pelo talento e coragem de enfrentar os mais afamados vates da época.
Furiba cantou com Pinto do Monteiro, Sebastião da Silva, Moacir Laurentino e tantos outros da grande constelação de violeiros.
Vate pernambucano que já está em fim de carreira pelo peso dos anos e, sobretudo, um vate vontadôso que enfrenta todas as dificuldades e não se deixa abater pela velhice.
Seu estilo ficou famoso pela maneira do autoelogio onde se apresenta como muito rico e conquistador.
Nas oportunidades em que se apresentou no Teatro de Arena, conquistou os maiores aplausos quando improvisava estrofes se dizendo mais rico que o compadre João Claudino a quem emprestava somas fabulosas.
Esse estilo de cantoria lhe coroou com a pecha de João Mentira hoje conhecido em todo o Brasil. À verdade, porém, é que João Furiba foi e continua sendo um excelente improvisador.
Certa vez, cantando com Manuel Laurindo que terminou uma estrofe afirmando sua admiração pelo “o tigre da mão chata”. Furiba sapecou essa imortal sextilha, peça obrigatória no arquivo das obras geniais.

“Eu admiro é a barata
Saber voar e correr,
Chega na lata de açúcar
Bate um baião pra comer,
O que come é muito pouco,
Mas bota o resto a perder.”

Furiba duelava com o famoso e imbatível Lourival Batista que aproveitou da ocasião para criticá-lo em virtude de se fazer acompanhar da esposa e terminou uma estrofe: “Não gosto de homem que anda / Com a mulher por toda rua.”.

Furiba mostra sua genialidade, improvisando essa obra de arte:

“Pra não fazer como a tua
Que fica em casa sozinha,
Entra homem pela sala,
Sai homem pela cozinha,
Eu como sou desconfiado
Pra onde vou, levo a minha.”.

Numa peleja com Pinto do Monteiro, Furiba, deixando de lado a mentira, falou que havia casado mesmo. Pinto não perdeu tempo e improvisou:

“Sei que sua esposa é
Honesta, educada e forte,
Talvez seja a mais bonita
Da Paraíba do Norte,
Eita Furiba feliz,
Ô moça pra não ter sorte!”.

Ivanildo Vila Nova considerado o melhor repentista do Brasil cantava com João Furiba e quis esnobar supremacia terminando uma estrofe: “Já estou ficando velho / De dar em cantor ruim.”.
Ivanildo é filho de José Faustino Vila Nova e nunca imaginou que chamar João Furiba de cantor ruim estaria despertando um gigante perigoso. Furiba retrucou:
“Teu pai também era assim
E se dizia professor,
Tudo que lia decorava,
Usava anel de doutor,
Cantou trinta e cinco anos,
Morreu sem ser cantador.”.

Como surgiu a fama de João Mentira? Moacir Laurentino cantou diversas vezes com João Furiba. Nos festivais de Teresina Moacir fazia a plateia delirar com as interrogações de Laurentino e as respostas de João Mentira. Moacir interroga: “Me responda como vai / Na criação de caprinos.”.

Furiba sapecou a resposta:

“Tenho quinhentos meninos
Morando em minha choupana,
Tratando da criação
Com capim de gitirana,
Tem cabra que está parindo
Duas vezes por semana.”.

Furiba continua sendo um improvisador genial. Certa vez Antonio Barbosa o provocou com uma sextilha que termina: “Da região do Sumé / Seu pai foi o maior corno.”.

Furiba cuja mãe já havia falecido não perdeu a calma e revidou:

“Por causa de um café morno
Mamãe terminou morrendo,
Se pai foi corno não é,
Você continua sendo,
Se meu pai foi não sabia,
Você é corno sabendo.”.

segunda-feira, abril 16

OS GÊNIOS NÃO MORREM por Pedro Ribeiro

Os arquivos do repente brasileiro guardam verdadeiras preciosidades que o tempo não apaga nem a memória esquece.
Temos mostrado a evolução do repente em face do natural avanço da tecnologia capaz de influenciar a Filosofia  e a Literatura.
Dos fenômenos que promoveram uma verdadeira transformação na natureza interna do repente, em forma e conteúdo, a urbanização da cantoria foi quem produziu as maiores modificações.
Seja como for, é importante observar que, apesar da linguagem mais apurada e correta, os velhos improvisadores do passado não podem, nem devem, ser esquecidos pelo talento de suas estrofes, cuja essência, oferece-nos verdadeiras obras de arte.
As glosas sempre foram da preferência dos violeiros. Formam uma parelha que, atualmente, é colocada ao final da décima, constituindo-se no 9º e 10º versos.
No passado não havia essa sistemática; os versos da glosa podiam ser intercalados no corpo da instância, desde que o último verso completasse a estrofe.
Vejamos alguns exemplos do imortal repentista Luis Dantas Quesado:

“Onde está Luis Dantas
Só se fazendo um de barro”.

Tomara achar quem garanta
A vinda da Monarquia,
E possa haver alegria
Onde não está Luis Dantas…
Ele diz que: quando canta,
Sente na goela um pigarro;
Deixou de fumar cigarro
Porque vivia doente…
Pra não perder-se a semente,
Só se fazendo um de barro.

É oportuno mostrar como a linguagem dos violeiros mudou com a urbanização da cantoria. A linguagem e os assuntos usados por um Ivanildo Vila Nova, Sebastião Dias e um Moacir Laurentino estão bastante diferenciados dos vates do passado.
Todavia, não podemos esquecer nem menosprezar o talento e a genialidade de Luis Dantas Quesado.
Vejam nas estrofes seguintes como Luis Dantas, com linguagem simples e vocabulário do sertão improvisa a glosa:

“Nem todo pau dá esteio”


Nem todo pássaro voa,
Nem todo inseto é besouro,
Nem todo judeu é mouro,
Nem todo pau dá canoa;
Nem toda notícia é boa,
Nem tudo que vejo eu creio,
Nem todos zelam o alheio,
Nem toda medida é reta,
Nem todo homem é poeta,
Nem todo pau dá esteio.

Nem toda água é corrente,
Nem todo adoçado é mel,
Nem tudo que amarga é fel,
Nem todo dia é sol quente;
Nem todo cabra é valente,
Nem toda roda tem veio,
Nem todo matuto é feio,
Nem todo mato é floresta,
Nem todo bonito presta,
Nem todo pau dá esteio.

Nem todo pau dá resina,
Nem toda quentura é fogo,
Nem todo brinquedo é jogo,
Nem toda vaca é leiteira;
Nem toda moça é faceira,
Nem todo golpe é em cheio,
Nem todos os livros eu leio,
Nem todo trilho é estrada,
Nem toda gente me agrada
Nem todo pau dá esteio.

Nem todo estronde é trovão,
Nem todo vivente fala,
Nem tudo que fura é bala,
Nem todo rico é barão;
Nem todo azedo é limão,
Nem todos pagam “bloqueio”,
Nem todas às noites ceio,
Nem todo vinho é de uva,
Nem toda nuvem traz chuva,
Nem todo pau dá esteio.

Nem todo preto é carvão,
Nem todo azul é anil,
Nem toda terra é Brasil,
Nem toda gente é cristão;
Nem todo índio é pagão,
Nem toda agência é correio,
Nem toda “viaje” é passeio,
Nem todos prezam bom nome,
Nem toda fruta se come,
Nem todo pau dá esteio.

Nem todo lente é sabido,
Nem tudo que é branco é leite,
Nem todo óleo é azeite,
Nem todo rogo é ouvido;
Nem todo pleito é vencido,
Nem todos vão ao sorteio,
Nem todo sítio é recreio,
Nem toda massa é de trigo,
Nem todo amigo é amigo,
Nem todo pau dá esteio.

quarta-feira, abril 4

O PODER DAS DROGAS por Pedro Ribeiro

Em nossa coluna anterior, publicamos parte do folheto de Joames & Messias Freitas, “As 10 (dez) Piores Drogas do Mundo”, abordando o perigo que a droga oferece à família e à Nação.
A matéria é altamente significativa em face dos problemas que a droga oferece à sociedade, exigindo um processo continuo de conscientização da família e, especialmente da juventude, segmento mais vulnerável ao vício.
Destarte, porque julgamos a matéria de grande finalidade e, do maior interesse do país, estamos divulgando o restante do folheto que já está sendo impresso para melhor uso da comunidade.
Informamos que o referido folheto como outros que tratam do assunto estarão à disposição do público na Casa do Cantador – rua Lúcia, 1419, bairro Vermelha.

 As benzodiazepinas
Em sétimo lugar estão,
Por terem tranquilizantes
Na sua composição,
Nos casos de ansiedade
São de larga prescrição.

Mesmo utilizadas na
Psicofarmacologia,
Elas causam dependência,
Manifestando agonia
Física e psicológica
Ao longo da terapia.

Da Anfetamina, a oitava,
Devemos nos precaver,
Pois suprime o apetite,
O que faz emagrecer
E por anorexia
Quem usa pode morrer.

A nona droga é o tabaco,
Riquíssimo em nicotina
Que induz à dependência,
Ao usuário domina;
Por ser droga liberada
Mata mais que a cocaína.

O tabaco é uma planta
Da América do Sul, porém
Espalhou-se pelo mundo
Que em todo lugar tem,
E diversas substâncias
Cancerígenas contêm.

Em décimo lugar citamos
A droga buprenorfina,
Substância venenosa
Derivada da heroína,
Como remédio tem sido
Usada na medicina.

A buprenorfina pode
Combater a dependência
Da heroína e do ópio,
Ministrada com frequência
Reduzindo a ansiedade
Nos casos de abstinência.

As drogas mais poderosas
Estão nesta relação;
Algumas delas são lícitas,
Enquanto outras não são,
Mas todas elas usadas
De formas exageradas
Provocam destruição.

quinta-feira, março 29

O PODER DAS DROGAS por Pedro Ribeiro

A droga é, inegavelmente, o maior problema da humanidade. Milhares de famílias, no Brasil e no mundo são, anualmente, flageladas e destruídas. A droga é um caminho sem retorno e, a cada dia, novas formas são lançadas ao consumo humano, envolvendo prioritariamente a juventude.
O esforço dos governos no sentido da solução do problema ainda não conseguiu, sequer, mostrar uma luz capaz de oferecer maiores esperanças para um mundo sem drogas.
A comercialização é cada vez mais audaciosa. As prisões efetuadas pelo sistema de combate à droga são impotentes diante da produção e do tráfico cada vez mais presentes e atuantes nas cidades brasileiras.
Assumimos uma posição corajosa na divulgação de tudo que possa contribuir para conscientizar a sociedade do perigo que a droga representa.
Destarte e contando com a preciosa colaboração do cordelista JOAMES, publicamos o folheto sobre o crack com grande repercussão no Piauí e fora dele.
Hoje, iniciamos a divulgação do folheto “As 10 (dez) Piores Drogas do Mundo”. É um excelente folheto de Joames com parceria de Messias Freitas, em sextilha.

 Após fazer um estudo
Meticuloso e profundo
Sobre o efeito das drogas
E todo mal oriundo
Delas, selecionamos
As dez piores do mundo.

Heroína é a primeira
Nesta relação citada;
É uma droga opióide,
Pois do ópio é derivada,
Consumida natural
E também sintetizada.

No inicio do século XX
Tinha o uso permitido
Para a farmacologia,
Porém mais tarde, devido
Seus efeitos violentos
Seu uso foi proibido.

Heroína em forma líquida
Nas veias é injetada,
Já em pó a droga pode
Ser ingerida ou inalada,
Pela corrente sanguínea
É para o cérebro levada.

Cocaína é a segunda
Nesta nossa relação,
É uma droga alcaloide
Que causa alucinação,
Sua dependência afeta
O cérebro e o coração.

Extraída de uma planta
Natural ou cultivada,
Chamada coca Lamarck
Que depois de processada
Em forma de pasta base
É comercializada.

Barbitúrico é a terceira,
Cujos princípios ativos
No centro do hipotálamo
Agem como sedativos,
Ao organismo levando
Seus efeitos depressivos.

A quarta é a metadona,
Que na Ásia é encontrada,
Também chamada de ópio,
Natural ou processada,
Pelo usuário pode
Ser mastigada ou fumada.

O álcool é a quinta droga
Nesta pesquisa da gente,
Mesmo sendo liberada
Ela é comprovadamente
A campeã mundial
Em morte, crime e acidente.

Cloridrato de cetamina
Ocupa o sexto lugar,
Tem efeito psicotrópico;
No sistema vascular
Faz aumentar a pressão
Podendo infarto causar.

sexta-feira, março 23

Estrofe da Semana:

Um inverno demorado
Produziu destruição
Com o cultivo arrasado
Não existe produção
A família nordestina
Vem cumprindo sua sina
Sem água e sem ter comida
Só existe a fé em Deus
O choro dos filhos seus
A esperança destruída.

URBANIZAÇÃO DO CORDEL por Pedro Ribeiro

A Literatura de Cordel sofreu profunda modificação com a urbanização da cantoria. No despertar de suas origens no Brasil e, até meados da década de 50, o cordel era exercido quase que totalmente na zona rural.
Os folhetos clássicos como: O Pavão Misterioso, Os Doze Pares de França, A Batalha de Oliveiros com Ferrabrás, A Chegada de Lampião no Inferno eram lidos para grandes multidões no terreiro das fazendas.
As noites e, especialmente, nos períodos de lua cheia, os fazendeiros convidavam vizinhos e agregados para ouvirem os professores do sertão lendo os folhetos mencionados e outros da preferência da plateia presente.
Por outro lado, grandes cantorias eram organizadas por fazendeiros nos alpendres da Casa Grande ou mesmo nos terreiros, com a presença de convidados especiais, vindos de cerca de 100 km para assistirem aos duelos dos grandes repentistas da época.
Os espetáculos eram feitos, geralmente, às sextas-feiras e se prolongavam pelo fim de semana, cabendo ao promotor da cantoria hospedar os convidados.
As pelejas rendiam boas somas com a colocação de clássica bandeja sobre um tamborete, na qual, cada presente colocava sua paga. O início da disputa tinha, por norma, a clássica louvação, na qual os repentistas preliantes teciam louvores aos coronéis e, sobretudo, às esposas que eram elogiadas com doces estrofes.
Somente após a costumeira e clássica louvação é que os repentistas atendiam aos pedidos dos presentes que consistiam nos mais variados gêneros, segundo a preferência de cada um.
Era uma tradição da época que a renda total da bandeja fosse entregue ao violeiro considerado vencedor da porfia, a não ser que ocorresse um compromisso da divisão em partes iguais.
O mais significativo desses encontros consistia – “no pega”, isto é, o desafio que encerrava a porfia. Mencione-se, ainda que, ao longo das batalhas, eram pedidos motes, quase sempre, com assuntos envolvendo a natureza ou relacionados ao sertão.
Para melhor ilustração da qualidade cultural da época, veja o mote pedido a Ismael Pereira num duelo com Zé Ferreira. O assunto é realmente interessante. Mote: “Também enfeita o sertão”

Um cavalo galopeiro,
Um chocalho badalando,
A bezerrama berrando
No pátio do fazendeiro.
O aboio do vaqueiro,
O berro do barbatão,
O ruído do gibão
Na maçaneta da sela,
Um batido da cancela
Também enfeita o sertão.

Uma barraca de pano,
Um tanque num pé de serra,
A cinza cobrindo a terra
Nas brocas do fim do ano,
Uma tropa de cigano,
Uma roça de feijão,
Uma apanha de algodão
De agosto pra novembro,
A trovoada em dezembro
Também enfeita o sertão.

As cantorias mudaram de cenário. A urbanização do repente colocou a mídia em ação e, os programas de rádio e TV passaram a exigir um português mais correto e, os poemas matutos foram abolidos da preferência das plateias que passaram também a exigir uma temática mais atual com os assuntos ligados às ocorrências do mundo moderno.
Os motes passaram por uma análise crítica com enfoque dos fatos mais destacados pela mídia nacional e estrangeira. Assim, a corrupção, a violência, a impunidade, direitos humanos, etc., ocupam o destaque do enfoque atual.
A urbanização passou a exigir melhores conhecimentos do violeiro, além de um português mais afinado. Desse modo, hoje, já existem vários repentistas formados nas mais diferentes profissões.

quinta-feira, março 15

O QUE DIZEM DELA:

Inspirar amor é a incessante aspiração das mulheres. (L. Borne).
O homem digno irá longe guiado pelas boas palavras de uma mulher. (Johann W. Goethe)
A boca feminina é uma flor, cujo perfeito desabrochar são as palavras: “eu te amo”. (R.. Hamering)
Conselho de mulher é pouco, mas quem não o segue é louco. (Miguel de Cervantes)
Nem sequer com uma flor pode o homem bater na mulher. (Provérbio Árabe)
A mulher tem em comum com os anjos: pertencem-lhe os seres que sofrem.(Honore de Balzac)

MULHER por Pedro Ribeiro

No dia consagrado à mulher, não podemos deixar de externar nossos mais profundos sentimentos. A mulher, por si mesma, é a flor que enfeita a vida e dignifica a natureza. A mais perfeita obra de Deus, pois somente a mulher é capaz de viver o amor com toda fidelidade. A mãe de Cristo teria que ser homenageada pelo segmento mais sagrado – a poesia. Mesmo tendo passado o dia oito ainda pulsa nos nossos corações a admiração e o amor desta vida.

 Mulher, símbolo sagrado
Do santuário da vida,
O berço da criação
Que por Deus é protegida;
Da natureza é a flor
Expressão maior do amor
Qu’ostenta toda beleza
Da reprodução o ninho
Sabe ministrar carinho
Com a melhor singeleza.

O próprio Filho de Deus
Para vir salvar o mundo
Nasceu da Santa Mulher
Num sentimento profundo
Foi na ponte do destino
Deus nos mandou o menino
Com a missão de salvar
Acredite quem quiser
Foi escolhida a mulher
Para essa graça alcançar.

Mulher é amor, é mãe,
É vida com sacrifício,
Mas também é sofrimento
Na batalha do ofício
Morre para proteger
Sem ver o filho sofrer
É essa o maior tesouro
Enfrenta qualquer perigo
Sua proteção é abrigo
Do amor é criadouro.

Nesse dia consagrado
De reverência a mulher
Sentimo-nos gratificado
Faremos tudo que puder
Pra colocá-la no trono
Do amor o maior dono
Numa conquista imbatível
Mãe de toda humanidade
Uma expressão de bondade
Maior e inatingível.

A história nos revela
Grandes acontecimentos
Que comandados por ela
Transformaram os momentos
Mudando o curso da história
Fatos repletos de glória
E de genialidade
Que a mulher construiu
Pro mundo contribuiu
Com sua capacidade.

Sem mulher o que seria
De uma vida sem amor
A vida não prestaria
Pois nos faltava o calor
Sem a rainha do lar
E como perpetuar
A grande lei da espécie
Era um mundo diferente
Com um povo descontente
Vivendo uma subespécie.

sexta-feira, março 9

PARABÉNS - GRANDE MULHER por Pedro Ribeiro

O dia oito de março é consagrado à mulher. Falar sobre essa grande figura é praticamente impossível. Falar de seus dotes, seus atributos, sua coragem, seu amor, não há palavras que expresse o sentimento humano.     Para externar a nossa homenagem à rainha do lar e do amor, transcrevemos o poema da grande cordelista, JOSEFINA FERREIRA GOMES DE LIMA, sem maiores comentários.

Parabéns, grande mulher!
Magnífica brasileira.
Parabéns, doce mulher!
Maria Gomes Ferreira
Mulher forte e virtuosa
Corajosa, mãe guerreira.

Nasceu em São João Vermelho
Boa terra nordestina
Ficou órfã muito cedo
Foi morar com Dona Eulina
Em são Raimundo Nonato
E depois em Teresina.

Não suportando a saudade
Do seu sertão nordestino
Voltando tempos depois
Para cumprir seu destino:
Casou-se e teve onze filhos
Co’ o marceneiro Faustino.

Filha de Melquíades Gomes
E de Patrícia Ferreira
Foi exímia professora
Fez papel de enfermeira,
Trabalhou muito na roça
E também foi costureira.

Teve todos os seus filhos
Pelas mãos de duas parteiras:
Mãe Raimunda e Laudelina
Amigas e companheiras
A quem Deus deu a missão
De obstetra e enfermeira.

Mostrando seu compromisso
De mulher perseverante
Dividia a pequena casa
Para acolher o estudante
E para dar boas aulas
Seu esforço era constante.

Sua casinha era a Escola
Salinha de chão batido,
Com banquinhos de madeira
E feitos por seu marido;
Ela tinha a consciência
De ter o dever cumprido.

Maria, grande mulher!
Honesta, batalhadora;
Exercia pela manhã
Seu ofício de professora
À tarde a grande mulher
Trabalhava na lavoura.

Criou os seus onze filhos
Com muita dificuldade
Os encaminhou na vida
Dando a oportunidade
A cada um de estudar
E cursar a faculdade.

O tempo foi passando
Sua família cresceu;
É avó de trinta netos
Herança que Deus lhe deu,
E já somam sete bisnetos
Co’ a última que nasceu.

Teve a formação pautada
Na ética e outros valores
Seu exemplo foi seguido.
Onze filhos vencedores:
Enfermeira, comerciário,
Nove deles, professores.

Mulher, meiga, carinhosa!
És fonte de inspiração
Na produção desses versos
Dedicados de coração
À mamãe Maria Gomes
Minha eterna gratidão.

quinta-feira, março 1

Estrofe da Semana:

Carnaval é alegria
Na mais ampla diversão
O reinado da folia
Na festa da animação
É um Brasil diferente
Um povo alegre e contente
Só se fala em brincadeira
Todos esquecem idade
Da velhice a mocidade
É pular a festa inteira.

REDESCOBRINDO O CORDEL por Pedro Ribeiro

O PROJETO “REDESCOBRINDO O CORDEL” é uma iniciativa do SESC em parceria com o Ponto de Cultura “Casa do Cantador” e a Associação dos Violeiros e Poetas Populares do Piauí. O ano passado foram ministrados cursos dessa natureza em Unidades Escolares da Prefeitura Municipal de Teresina e Governo do Estado.

O curso é ministrado entre 30 e 35 alunos escolhidos pela direção da escola em consonância com representante do SESC. O aproveitamento do alunado chega a ser sempre excelente, fato comprovado pelas estrofes elaboradas pelos próprios alunos, durante as oficinas.

Geralmente, no encerramento de cada curso, os alunos mais destacados são chamados a recitarem suas próprias estâncias, quase sempre de alto nível o que bem comprova a excelente ideia do SESC no patrocínio de um curso tão importante que já está sendo lecionado em quase todo País com aceitação também do exterior.

É importante destacar que Redescobrindo o Cordel tem objetivos marcantes e superiores quando se propõe a desenvolver a mente do alunado, especialmente no que diz respeito à memória, juízo, raciocínio, criatividade e agilidade mental.

Em face da estratégia, já está soberbamente comprovado que os colégios que implantaram cordel em suas salas de aula, o aumento de notas dos estudantes atingem a níveis nunca dantes conquistados. A mídia nacional já documentou essa realidade, ao mostrar as notas e colocações conquistadas nos exames do Ministério da Educação.

Por essas razões e por esse trabalho, queremos parabenizar o SESC pela iniciativa e, estamos confiantes de que o Piauí e o Brasil serão gratos e justos com o trabalho que vem destacando o aprendizado do cordel nas escolas do Piauí.

sexta-feira, fevereiro 10

APAGUE O CIGARRO ANTES QUE ELE LHE APAGUE por Pedro Ribeiro


Concluindo a divulgação do folheto de autoria da cordelista Josefina Ferreira Gomes de Lima, abordando o perigo que o tabagismo representa para saúde da pessoa. Quem tiver interesse nessa publicação pode nos procurar na Casa do Cantador para adquirir um exemplar.

Mesmo aquele que não fuma
É obrigado a fumar,
São os fumantes passivos
Que sofrem pra suportar
A fumaça do cigarro
Que o obriga a inalar.

Pode ser discriminado
Pelo uso do cigarro
Porque vive diariamente
Com as mãos cheirando a sarro
E uma tosse esquisita
Que se chama de “pigarro”.

Pessoas que fumam são
Sempre tão discriminadas!
Existem leis que garantem
Que elas sejam separadas
E que possam livremente
Dar as suas baforadas.

Desculpem caros fumantes
O meu jeito de falar,
Sou alguém que lutou muito
Para deixar de fumar;
Com fé e perseverança
Eu pude me libertar.

Foram seis anos fumando
Vinte cigarros por dia;
Quando ficava nervosa
Aumentava esta quantia,
Sem notar que cigarro
Aos poucos me consumia.
 
Eu acendia o cigarro
Sem qualquer preocupação
Pessoas que não gostavam
Mostravam indignação;
Por isso eu também fui
Vítima da rejeição.

Vinte e oito anos faz
Que eu deixei de fumar,
Garanto a você, fumante,
Que vale a pena tentar:
Apagues o cigarro antes
Que ele possa lhe apagar.

Pra concluir te pergunto:
Queres parar de fumar?
Vá buscar um tratamento,
Mas não pode abandonar;
Tem que ter perseverança
E apoio familiar.

Muita gente se pergunta:
Como é feito o tratamento?
É pela orientação
Ou pelo medicamento;
Vá aos postos de saúde
Procurar atendimento.

SUS dispões de tratamento
Gratuito a quem desejar
Parar de uma vez por todas
Co’o hábito de fumar;
Ligue pro número abaixo
Para melhor se informar.
0800611997.

Não temos receia pronta
Para deixar de fumar;
Faça avaliação médica
E procure se tratar.
Apagues o cigarro antes
Que ele venha a te apagar.

quinta-feira, fevereiro 2

APAGUE O CIGARRO ANTES QUE ELE LHE APAGUE por Pedro Ribeiro


Continuando a divulgação do folheto “Apague o Cigarro Antes Que Ele lhe Apague” de autoria da cordelista JOSEFINA FERREIRA GOMES DE LIMA por considerarmos de grande importância no trabalho de combate às drogas. A coleção das partes que integram o folheto é de grande valia para os estudiosos do assunto.


Está dentro do cigarro
Um coquetel de veneno:
O cloreto de vinil,
Butano e benzopireno,
Cloreto de hidrogênio,
A naftalina e benzeno.

Formol, componente fluido
Poderoso conservante
Utilizado em cadáveres,
Ingrediente importante
Na produção do cigarro
Pra intoxicar o fumante.

O cádmio é encontrado
Em baterias de carro,
Substância utilizada
Na produção do cigarro;
É causador de alergias,
Asma, bronquite e pigarro.

Sabias que no cigarro
Contém até DDT?
Um veneno perigoso
Que pode matar você;
O perigo é muito grande
Só o fumante não vê.

Apague logo o cigarro
Abra mão desta besteira;
Quem produz cigarro pensa
Que o fumante é lixeira
Pra receber todo dia
Todo tipo de sujeira.

Se parares de fumar
Sua vida mudará:
Vinte minutos depois
Pressão normalizará
E depois de duas horas
Nicotina mais não há.

Após oito horas que
Alguém para de fumar
O nível de oxigênio
Do sangue vai melhorar,
Uma chance pra quem quer
A saúde regatar.

Após dois dias o olfato
Começa a funcionar,
Percebe melhor os cheiros,
Recupera o paladar;
Sentidos adulterados
Pelo hábito de fumar.

Após três semanas sente
Agradável sensação
Porque e torna mais fácil
A sua respiração;
Além de respirar bem
Melhora a circulação.

Após cinco ou dez anos
A vida volta ao normal
Porque o risco de infarto
Certamente será igual
Ao de quem nunca na vida
Fumou a erva do mal.

Sabemos que não é fácil
Alguém parar de fumar,
São grandes dificuldades
Que poderão enfrentar;
Com muita perseverança
Todos conseguem deixar.

A síndrome de abstinência
É a primeira reação;
Tonteira, dor de cabeça,
Falta de concentração,
Depressão, ansiedade,
Mau humor e irritação.

A vontade incontrolável
De fumar pode ocorrer;
Grande aumento de apetite
Também pode acontecer,
Sintomas que pouco a pouco
Podem desaparecer.

Nos espaços sociais
No meio de muita gente
O fumante é visto como
Um ser inconveniente,
Que acende seu cigarro
E polui todo ambiente.