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Teresina, Piauí, Brazil
Associação dos Violeiros e Poetas Populares do Piauí - Casa do Cantador. Fundada em 15 de outubro 1977. Espaço de relevância cultural no Piauí que funciona como Centro de Pesquisa e de apoio a violeiros e poetas populares de vários lugares do Brasil. Localizada na Rua Lúcia, 1419, Bairro Vermelha, Teresina - Piauí - Telefone: (86) 3211-6833 E-mail: casadocantadordopiaui@hotmail.com

sexta-feira, março 23

URBANIZAÇÃO DO CORDEL por Pedro Ribeiro

A Literatura de Cordel sofreu profunda modificação com a urbanização da cantoria. No despertar de suas origens no Brasil e, até meados da década de 50, o cordel era exercido quase que totalmente na zona rural.
Os folhetos clássicos como: O Pavão Misterioso, Os Doze Pares de França, A Batalha de Oliveiros com Ferrabrás, A Chegada de Lampião no Inferno eram lidos para grandes multidões no terreiro das fazendas.
As noites e, especialmente, nos períodos de lua cheia, os fazendeiros convidavam vizinhos e agregados para ouvirem os professores do sertão lendo os folhetos mencionados e outros da preferência da plateia presente.
Por outro lado, grandes cantorias eram organizadas por fazendeiros nos alpendres da Casa Grande ou mesmo nos terreiros, com a presença de convidados especiais, vindos de cerca de 100 km para assistirem aos duelos dos grandes repentistas da época.
Os espetáculos eram feitos, geralmente, às sextas-feiras e se prolongavam pelo fim de semana, cabendo ao promotor da cantoria hospedar os convidados.
As pelejas rendiam boas somas com a colocação de clássica bandeja sobre um tamborete, na qual, cada presente colocava sua paga. O início da disputa tinha, por norma, a clássica louvação, na qual os repentistas preliantes teciam louvores aos coronéis e, sobretudo, às esposas que eram elogiadas com doces estrofes.
Somente após a costumeira e clássica louvação é que os repentistas atendiam aos pedidos dos presentes que consistiam nos mais variados gêneros, segundo a preferência de cada um.
Era uma tradição da época que a renda total da bandeja fosse entregue ao violeiro considerado vencedor da porfia, a não ser que ocorresse um compromisso da divisão em partes iguais.
O mais significativo desses encontros consistia – “no pega”, isto é, o desafio que encerrava a porfia. Mencione-se, ainda que, ao longo das batalhas, eram pedidos motes, quase sempre, com assuntos envolvendo a natureza ou relacionados ao sertão.
Para melhor ilustração da qualidade cultural da época, veja o mote pedido a Ismael Pereira num duelo com Zé Ferreira. O assunto é realmente interessante. Mote: “Também enfeita o sertão”

Um cavalo galopeiro,
Um chocalho badalando,
A bezerrama berrando
No pátio do fazendeiro.
O aboio do vaqueiro,
O berro do barbatão,
O ruído do gibão
Na maçaneta da sela,
Um batido da cancela
Também enfeita o sertão.

Uma barraca de pano,
Um tanque num pé de serra,
A cinza cobrindo a terra
Nas brocas do fim do ano,
Uma tropa de cigano,
Uma roça de feijão,
Uma apanha de algodão
De agosto pra novembro,
A trovoada em dezembro
Também enfeita o sertão.

As cantorias mudaram de cenário. A urbanização do repente colocou a mídia em ação e, os programas de rádio e TV passaram a exigir um português mais correto e, os poemas matutos foram abolidos da preferência das plateias que passaram também a exigir uma temática mais atual com os assuntos ligados às ocorrências do mundo moderno.
Os motes passaram por uma análise crítica com enfoque dos fatos mais destacados pela mídia nacional e estrangeira. Assim, a corrupção, a violência, a impunidade, direitos humanos, etc., ocupam o destaque do enfoque atual.
A urbanização passou a exigir melhores conhecimentos do violeiro, além de um português mais afinado. Desse modo, hoje, já existem vários repentistas formados nas mais diferentes profissões.

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