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Teresina, Piauí, Brazil
Associação dos Violeiros e Poetas Populares do Piauí - Casa do Cantador. Fundada em 15 de outubro 1977. Espaço de relevância cultural no Piauí que funciona como Centro de Pesquisa e de apoio a violeiros e poetas populares de vários lugares do Brasil. Localizada na Rua Lúcia, 1419, Bairro Vermelha, Teresina - Piauí - Telefone: (86) 3211-6833 E-mail: casadocantadordopiaui@hotmail.com

quinta-feira, abril 19

JOÃO FURIBA ou JOÃO MENTIRA por Pedro Ribeiro

João Furiba é um dos maiores repentistas que o Brasil e, em particular o Nordeste aplaude. Pernambucano, da gema, começou a cantar em 1944, no despertar da juventude.
No início de sua carreira já assombrava pelo talento e coragem de enfrentar os mais afamados vates da época.
Furiba cantou com Pinto do Monteiro, Sebastião da Silva, Moacir Laurentino e tantos outros da grande constelação de violeiros.
Vate pernambucano que já está em fim de carreira pelo peso dos anos e, sobretudo, um vate vontadôso que enfrenta todas as dificuldades e não se deixa abater pela velhice.
Seu estilo ficou famoso pela maneira do autoelogio onde se apresenta como muito rico e conquistador.
Nas oportunidades em que se apresentou no Teatro de Arena, conquistou os maiores aplausos quando improvisava estrofes se dizendo mais rico que o compadre João Claudino a quem emprestava somas fabulosas.
Esse estilo de cantoria lhe coroou com a pecha de João Mentira hoje conhecido em todo o Brasil. À verdade, porém, é que João Furiba foi e continua sendo um excelente improvisador.
Certa vez, cantando com Manuel Laurindo que terminou uma estrofe afirmando sua admiração pelo “o tigre da mão chata”. Furiba sapecou essa imortal sextilha, peça obrigatória no arquivo das obras geniais.

“Eu admiro é a barata
Saber voar e correr,
Chega na lata de açúcar
Bate um baião pra comer,
O que come é muito pouco,
Mas bota o resto a perder.”

Furiba duelava com o famoso e imbatível Lourival Batista que aproveitou da ocasião para criticá-lo em virtude de se fazer acompanhar da esposa e terminou uma estrofe: “Não gosto de homem que anda / Com a mulher por toda rua.”.

Furiba mostra sua genialidade, improvisando essa obra de arte:

“Pra não fazer como a tua
Que fica em casa sozinha,
Entra homem pela sala,
Sai homem pela cozinha,
Eu como sou desconfiado
Pra onde vou, levo a minha.”.

Numa peleja com Pinto do Monteiro, Furiba, deixando de lado a mentira, falou que havia casado mesmo. Pinto não perdeu tempo e improvisou:

“Sei que sua esposa é
Honesta, educada e forte,
Talvez seja a mais bonita
Da Paraíba do Norte,
Eita Furiba feliz,
Ô moça pra não ter sorte!”.

Ivanildo Vila Nova considerado o melhor repentista do Brasil cantava com João Furiba e quis esnobar supremacia terminando uma estrofe: “Já estou ficando velho / De dar em cantor ruim.”.
Ivanildo é filho de José Faustino Vila Nova e nunca imaginou que chamar João Furiba de cantor ruim estaria despertando um gigante perigoso. Furiba retrucou:
“Teu pai também era assim
E se dizia professor,
Tudo que lia decorava,
Usava anel de doutor,
Cantou trinta e cinco anos,
Morreu sem ser cantador.”.

Como surgiu a fama de João Mentira? Moacir Laurentino cantou diversas vezes com João Furiba. Nos festivais de Teresina Moacir fazia a plateia delirar com as interrogações de Laurentino e as respostas de João Mentira. Moacir interroga: “Me responda como vai / Na criação de caprinos.”.

Furiba sapecou a resposta:

“Tenho quinhentos meninos
Morando em minha choupana,
Tratando da criação
Com capim de gitirana,
Tem cabra que está parindo
Duas vezes por semana.”.

Furiba continua sendo um improvisador genial. Certa vez Antonio Barbosa o provocou com uma sextilha que termina: “Da região do Sumé / Seu pai foi o maior corno.”.

Furiba cuja mãe já havia falecido não perdeu a calma e revidou:

“Por causa de um café morno
Mamãe terminou morrendo,
Se pai foi corno não é,
Você continua sendo,
Se meu pai foi não sabia,
Você é corno sabendo.”.

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