Minha foto
Teresina, Piauí, Brazil
Associação dos Violeiros e Poetas Populares do Piauí - Casa do Cantador. Fundada em 15 de outubro 1977. Espaço de relevância cultural no Piauí que funciona como Centro de Pesquisa e de apoio a violeiros e poetas populares de vários lugares do Brasil. Localizada na Rua Lúcia, 1419, Bairro Vermelha, Teresina - Piauí - Telefone: (86) 3211-6833 E-mail: casadocantadordopiaui@hotmail.com

quinta-feira, dezembro 22

SAIBA MAIS SOBRE O NATAL Pedro Ribeiro


As comemorações sobre o Natal – a maior festa da cristandade – encantam o mundo inteiro, especialmente os cristãos. O que não sabíamos é que esses festejos tiveram início no Brasil que dimensionou a grandeza desse acontecimento.Instituída no século II pelo Papa Telesforo, a data que se comemora atualmente foi marcada pelo Papa Júlio I. 
 
“Árvore de Natal – Natal de Rua – Entende-se por essa expressão, o sistema, hoje praticamente universal, de se ornamentarem as ruas, fachadas, praças e jardins particulares, com lanternas, lâmpadas coloridas e enfeites típicos, por ocasião do natal”. É oportuno sabermos que “o idealizador desse costume foi um moço paulista Carlos Mazzei, filho de italianos”.
 
Herdara dos pais, os ensinamentos cristãos. Católico praticante, festejava o nascimento de Cristo com grandes solenidades e efusivas alegrias. “Desde sua adolescência, seu espírito de observação foi acumulando uma profunda piedade por inúmeros semelhantes seus, menos afortunados, que não possuíam recursos para que o seu natal se tornasse uma data mais festiva e algo diferente da triste rotina de privações de todos os outros dias”.

Com essa preocupação e espírito solidário “idealizou então um meio de transformar as praças públicas, as ruas da cidade, os logradouros comuns, em grandes presépios coletivos”. “Em novembro de 1935, solicitou, por meio de um requerimento, ao prefeito da cidade de São Paulo, em nome da sua firma de publicidade, que mandasse ornamentar a cidade para a festiva comemoração do nascimento de Cristo, justificando detalhadamente os nobres e cristãos motivos de suas pretensões”. “Sua ideia, porém, não teve, na época, por parte das autoridades a devida compreensão”.

Como não foi atendido, “iniciou sozinho a campanha, junto com particulares, para que se realizasse o seu propósito, pela colaboração privada”. “Somente após 18 anos de luta e persistência, foi possível ver o seu sonho realizado, quando o então prefeito de São Paulo, Dr. Jânio da Silva Quadros, aprovou o requerimento”. O movimento se intensificava. O Brasil começava a chamar a atenção de outros países para a importância e a fé de se comemorar com mais destaque o nascimento do Menino Jesus.

A festa se propagou em outros estados e países e, hoje é universal. Todavia, teve seu nascedouro no Brasil. “Todos os povos sentiram a glória na atmosfera das ruas e das praças a alegria contagiante do Natal”. “Com isto, ganhou também o comércio e a indústria, pois a euforia provocada pelo festivo ambiente coletivo predispõe à generosidade e à grandeza de alma, além de centena de reportagens que se fazem em todo o país, a respeito da iniciativa do Barão Carlos Mazzei”. “A Câmara Municipal de São Paulo o homenageou com um voto de louvor e, pelas mãos do Dr. Ademar Pereira de Barros, a medalha de AMIGO DA CIDADE DE SÃO PAULO, tendo sido o primeiro e único brasileiro até hoje a receber tal distinção”. 

“Possuidor de dezenas de condecorações e diplomas nacionais e estrangeiros é também o Barão Carlos Mazzei um benemérito de dezenas de Instituições de Caridade, às quais assistia com largueza e sem alarde”. Como vimos, as comemorações da maior festa da Cristandade, tiveram sua origem no Brasil. Por acreditarmos que pouquíssimos brasileiros tenham conhecimento desse fato, tivemos a iniciativa de informa-lo aos nossos leitores.

Como estrofe da semana, divulgamos o soneto de Domingo Fonseca sob o título “MAIS UM NATAL”:

Mais um Natal que passa... E a pobreza
Continua a chorar de mãos vazias
Trezentos e sessenta e cinco dias
E seis horas de sonho e de incerteza!…
Surge um novo Natal… Nova tristeza
Para os que sofrem. Novas iguarias,
Novas harpas vibrando em melodias
Em torno dos banquetes da nobreza.

Ó Menino Jesus! Espírito Santo,
Tu que em trinta e três anos de existência,
Entre os homens padecestes tanto,

Roga a Deus – a Suprema Divindade,
Para nos dar ao menos paciência,
      Já que fez desigual a humanidade!…

segunda-feira, dezembro 19

Estrofe da Semana:


Política é a ciência
Na arte de governar,
É caso só para líderes
E de quem quer trabalhar;
Embora tão deturpada,
Porém se for melhorada,
Do País a solução,
Só precisa transparência,
Verdade com consciência
      Pra libertar a Nação.

PINTO DO MONTEIRO II – Pedro Ribeiro


Na coluna anterior falamos sobre Pinto do Monteiro, o repentista mais respeitado de sua geração. Além da extraordinária agilidade do destacado violeiro, Pinto se impunha, a todos, pela velocidade de raciocínio e pela franqueza como respondia os insultos dos parceiros. Outra característica que o destacava diante da geração de seu tempo era a franqueza e honestidade como tratava seus negócios e, sobretudo, na seriedade como encarava seus compromissos. 

Por outro lado, o ditado “crie fama e deite na cama”, mais uma vez, confirmado no trabalho que realizamos, isto é, a comparação de talento entre o passado e a nova geração que coloca os atuais improvisadores, muito acima dos ases do passado. Todavia, esse aspecto será analisado posteriormente. Por enquanto vamos continuar divulgando o trabalho poético daquele que encantou as gerações inteiras como o mais festejado violeiro.

Geraldo Amâncio, uma das mais expressivas revelações, enfrenta o gigante Pinto. Na deixa de sua estrofe:
“Meu cavalo onde passa
Vai levando tudo a eito”.

O velho Pinto não se incomodou e sapecou a estrofe seguinte:
“O meu, porém, é dum jeito
Que nem o diabo aguenta,
Entra no mato fechado,
Toda madeira arrebenta,
Dá tapa em bunda de boi
Que a merda sai pela venta”.

José Alves Sobrinho desafiou a fera do repente e fez alusão ao que já foi:

“Pinto não está nem a metade
Do que era na mocidade”

Pinto não gostou e respondeu à altura:
“É o peso da idade
Que no meu lombo monta,
Estou como touro velho
Que já perdeu uma ponta,
Mas com tudo isso, ainda,
Não leva garrote em conta”.

Era como os parceiros mexiam com Pinto para apreciar as respostas. Numa cantoria o colega fazendo alusão aos grandes repentistas de São José do Egito termina uma estrofe:
“Lá tem Job, Louro e Catota,
Os campeões da Ribeira”.

Pinto reage e sapeca essa obra:

“Homem deixe de história
Que se eu for ao Pajeú,
Dou em Job e dou em Louro,
Em Zé Catota e em Tu,
E fico no meio da rua,
Cantando e dançando nu”.

Certa vez numa noitada de viola Pinto acabara de cantar com Cancão quando foi convidado a enfrentar Zé Faustino que se fazia acompanhar de Ivanildo Vilanova. Pinto começou:
“Eu já cantei com Cancão,
Um pássaro do bico fino,
Cantou, voou, foi embora,
Vem agora Zé Faustino,
Com esse eu acabo logo,
Depois enforco o menino”.

Pedro Bandeira cantando com Pinto exaltou a fama do avô Manoel Galdino Bandeira, terminando uma estrofe:
“A maior honra que eu sinto
É ser neto de Galdino”.

Pinto titubeou e sapecou:
“Dessa família Galdino
O cantador foi Bandeira,
Mas a traça deu no pano,
O cupim deu na madeira,
E só deixou quatro netos
      Improvisando besteira”.

sexta-feira, dezembro 9

Estrofe da Semana:

Mais um ministro caiu
No peso da corrupção
O Brasil evoluiu
Engrandecendo a Nação
Tantos quantos praticarem
Pois aqueles que errarem
Deixarão o Ministério
É o Brasil consciente
Democracia presente
     Fazendo o País mais sério.

PINTO DO MONTEIRO – Pedro Ribeiro


Defendemos que a cultura e os gênios que a construíram devem ser do conhecimento de todos ou pelo menos daqueles que estão, como eu, ligados a essa arte combatida por uns e admirada por outros. O Repente e a Literatura de Cordel possuem verdadeiras estrelas que ornamentam a constelação dos gênios que a construíram.
 
Nomes como Domingos Fonseca, Mané Xudu, Dimas Batista, Antonio Marinho, Serrador, Inácio da Catingueira e tantos outros legaram a nossa um patrimônio respeitável e que deve ser relembrado para não desaparecer na poeira do tempo. Dentre os vultos mais renomados na história do repente, vamos destacar a figura de Pinto do Monteiro respeitado e reverenciado pelos mais afamados gênios da atualidade.O lendário az do repente nasceu no dia 02 de novembro de 1896 na fazenda Carnaibinha do município de Monteiro, na Paraíba. O repente veio depois, uma vez que no início de sua vida foi soldado da polícia pernambucana; auxiliar de enfermagem no Hospital da Tamarineira, no Recife. Como Domingos Fonseca foi guarda do Serviço Nacional de Malária. Esteve no Amazonas além de outras atividades.

O que importa é analisa-lo como repentista renomado e pavor dos cantadores da época. Numa peleja com Lourival Batista o parceiro o criticou sobre seu retorno do Amazonas:
 
“Pinto foi ao Amazonas
Pensando que o enriquecia,
Além de voltar doente,
Se esqueceu do que sabia,
Não canta como cantava,
Nem bebe como bebia.”

Gênio como poucos, Pinto Velho retrucou Lourival:
“Essa sua cantoria
Não me deixou satisfeito,
Nunca me faltou lembrança
E muita força no peito,
E a boca de beber
Ainda está do mesmo jeito.”

Antonio Alves cantando com Pinto quis humilhá-lo,terminando uma estrofe:
“Velho cantando com moço
Termina levando pau.”

Pinto com a rapidez de relâmpago retrucou-lhe:
“Mas eu ou como lacrau
Que do lixo se aproxima,
Vivendo da umidade,
Se alimentando do clima,
Esperando que um caipora
Chegue e bote o pé em cima.”

Expedito Sobrinho numa peleja com Pinto o advertiu dos anos que pesavam sobre ele:
“Pinto tem setenta anos
Talvez não chegue aos oitenta.”

Pinto não brincava em serviço e tirou do arquivo da inteligência:
“Eu vivo é cento e quarenta,
Achando a vida moderna,
Escorado na bengala,
Coxeando duma perna,
Quem me domina é Jesus,
Corno nenhum me governa”.

Lourival Batista cantava com Pinto no estilo Oito a Quadrão:
“Cantar comigo é um risco,
Quebro pedra, espalho cisco,
Vem trovão e vem corisco,
Vem corisco e vem trovão,
Desce água em borbotão,
As águas fazendo tromba,
Teu açude agora arromba
Nos oito pés a quadrão”.

Pinto como sempre, respondeu de imediato:
“Meu açude não arromba
Nem sua parede tomba,
Porque dez pés de pitomba
Sustentam seu paredão,
Haja pitomba no chão,
N’água rasa e n’água funda,
Leve pitomba na bunda
Nos oito pés a quadrão.”