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sexta-feira, maio 4

ENCONTRO DE GÊNIOS por Pedro Ribeiro

Antonio Marinho e Pinto do Monteiro foram figuras de maior destaque na constelação que iluminou a poesia nordestina, no passado, que o tempo levou.
Verso fácil e talento inigualável, ambos foram festejados pelos amantes do repente. Seja qual fosse o parceiro, a cantoria já recebia uma plateia especial e o encontro era aplaudido e comentado em toda região.
O difícil ao crítico, por mais conhecedor e profundo, é saber e distinguir qual o melhor, o mais profundo, o mais improvisador e de maior talento.
Nos incontáveis encontros que realizaram, enfrentando os maiores cantadores da época, tanto Marinho como Pinto, foram sempre destacados como os melhores.
A nova geração de repentistas ainda guarda o maior respeito e admiração pelas estrofes luminares que produziram.
Registramos, para conhecimento dos nossos leitores, um dos encontros dos gênios do repente:

P.-    Senhor Antonio Marinho,
É chegada a ocasião,
Pergunto, quero saber,
Responda se posso ou não,
Ir atravessar cantando,
Pelo seu Alto sertão.

AM. -    Pode seu Pinto, pois não!
Tocar, cantar por aí…
É filho da mesma terra,
Nasceu e criou-se ali,
Mas cuidado com as raposas,
Que há muitas lá, como aqui.

P.-    Aonde eu chego não há
Prazer que não me apareça,
Raposa que não se esconda,
Brabo que não me obedeça,
Letrado que não me escute,
Cantor que não endoideça.

AM. -    Pinto, quem canta comigo,
Faz exame e se confessa,
Eu zangado não abrando,
Mesmo que um santo me peça,
Se houver mais pinto apareça
Pois este eu pelo depressa.

P.-    A mim o fogo não queima,
Nem tosta e nem me sapeca,
Em mim quem botar a mão
Larga o couro da munheca,
Incha os dedos, cai as unhas,
Murcha os nervos, o braço seca.

AM. -    Para o meu lar sertanejo
Cantor que vem se arrepende,
Encontra os becos tomados,
Pra toda banda que pende,
E, ai do pinto que eu pegá-lo,
Só Deus como pai defende.

O desafio dos dois gigantes do repente prossegue em ritmo cada vez mais empolgante, deixando a plateia presente verdadeiramente empolgada. Pinto reinicia a porfia:

P.-    Marinho, onde eu passo deixo,
Qualquer uma estrada aberta,
Cantor tendo essa notícia,
Com medo de mim se aperta,
Deixa a casa, entra no mato,
E a meia noite deserta.

AM. -    Monteiro, Prata, Boi velho,
Mais São Thomé e, enfim,
Em São José do Egito

E o que mais pertence a mim,
Um galo até não se arruma,
Quanto mais um Pinto assim.

P.-    Eu chegando em São Thomé,
Acabo com aquela asneira…
Monteiro, Prata, Boi velho,
Um ano não tem mais feira
E se eu for a São José,
Chove pau, pinga madeira.

A peleja não se encerra e continua em tom desafiador, colocando os preliantes numa batalha cada vez mais renhida.

P. -    Não precisa tanto assim,
Vir grande, médio e miúdo,
Pois não convém chegar tudo,
Um pinto só lhe dá fim,
Bom, sofrível, e ruim,
Não precisa aparecer,
Vejo seu corpo tremer
Com as bicadas de um pinto
E pelo jeito eu já sinto
O senhor esmorecer.

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