Falando
do terceiro dia do XL Festival de Violeiros do Norte e Nordeste, em homenagem
ao centenário de Domingos Fonseca, o maior repentista do Piauí, com um trecho
do livro Pelos Caminhos do Repente,
de Pedro Ribeiro, que diz: “Poesia é a
pulsão da alma, que projeta pela inspiração, no sentido do belo”. E, é com
a alma pulsando que começa o último dia do festival, já em clima de saudade,
com violeiros afinando suas violas e recepcionando pessoas que os procuram na
Casa do Cantador antes das apresentações, como estudantes pesquisadores da
Universidade Estadual do Piauí, professores e outros amantes da cultura
popular.
Como
nos dias anteriores, a movimentação continuou na Casa do Cantador, em Teresina,
começando com o almoço na chácara de João Claudino para repentistas, poetas
populares e autoridades. Este foi um momento marcante porque esse homem simples
que enche a alma de regozijo quando ouve um som de viola, um repentista
cantando ou um poeta declamando, é o maior apoiador desse evento. Aos 83 anos,
mais de quarenta deles apreciando e apoiando a arte da cantoria, ao lado de
Pedro Ribeiro, Claudino participou efetivamente de todas as atividades nesse
festival que homenageou o maior repentista do Piauí, Domingos Fonseca.
Às
19 horas, do dia 25 de agosto iniciou-se a terceira e última noite de
apresentação dos violeiros, repentistas e poetas populares do Norte e Nordeste
que teve 34 artistas trovadores e declamadores expressando, por meio de versos,
os mais variados temas, cada um dando o melhor de si: uma súmula da sua arte
que brota da profundeza de sua alma de poeta trovador. Essa noite foi marcada
por emoções fortes com a apresentação de grandes nomes do repente como Moacir
Laurentino, Sebastião da Silva, Fenelon Dantas, João Paraibano, Valdir Teles,
Jonaci Dantas, Zé Viola, Zé Carlos do Pajeú, Edmilson Ferreira e tantos outros
que brilharam no festival como brilham as estrelas no céu. Tivemos a
participação de mulheres repentistas como Maria Ferreira de Teresina, Toinha
Alves, de Uruçuí (PI) e Toinha Brito (PI) num duelo com o cantador Agamenom.
Por
meio de vários gêneros da cantoria como Sextilhas, Mourão de Sete Linhas,
Mourão Caído, Mourão Perguntado, Gemedeira, Voa Sabiá, Coqueiro da Bahia,
Quadrão Mineiro, Dez de Queixo Caído, Oitavão Rebatido, O Cantador de Vocês,
Galope à Beira-Mar e Gabinete, os trovadores cantaram sobre vários temas e para
fazer homenagens como fez Aureliano dos Santos (MA) e Manoel Lucas (PI) para
homenagear Domingos Fonseca, o maior repentista do Piauí. Outras duplas
cantaram para homenagear João Claudino, o patrono dos violeiros; doutor Pedro
Ribeiro, organizador do maior Festival de Violeiros do Planeta; dona Maria
Viana, a madrinha dos cantadores, e aos poetas falecidos como, Calixtão e
outros também lembrados neste Festival.
É positiva
a avaliação que se faz do XL Festival de Violeiros do Norte e Nordeste. Foi
dada a oportunidade para todos os repentistas e poetas populares de expressarem
sua arte. Tivemos além dos shows de viola, os declamadores como Joaquim da
Matta (PI) que em virtude de problemas nas cordas vocais não pôde cantar, mas
encantou a plateia declamando, assim como o fez Mariana Teles (PE), lançando
livro e CD de declamação e João de Lima (AL). O festival contou com a
participação de repentistas dos estados nordestinos e um de São Paulo. Tivemos
repentistas e poetas populares que já participaram de muitos festivais, como
Nonatinho (MA) que participou de 38 dos 40 festivais e que tem o prazer de
todos os anos registrar o evento, em cordel, assim como temos participantes que
vieram pela primeira vez como João de Lima, de Maceió (AL).
Outros
fatos importantes neste festival merecem registro como a participação de
mulheres cantando e declamando, cantadores idosos e jovens como a dupla de
irmãos Jeferson Silva e Jairo Silva; e de uma criança, o encantador Ylson
Alves, de apenas seis anos de idade. Enfim, um festival que jamais será
esquecido.
Finalizo dizendo que é impossível não
gravar na mente as frases ”E com os
aplausos da plateia vamos chamar a dupla... sapeca aí, meninos” ou “Atenção
para o mote...” tão pronunciadas e repetidas com a mesma emoção por Doutor
Pedro Mendes Ribeiro, esse filósofo, jornalista e poeta que realizou com
entusiasmo 40 festivais, e é para ele que presto a minha homenagem com
“Parabéns!”, parabéns por mais um grande festival que só se tornou possível
graças à sua força e perseverança e ao apoio irrestrito de João Claudino
Fernandes, patrono dos violeiros e poetas populares, a quem também homenageio
com um caloroso abraço!
Josefina
Ferreira Gomes de Lima
Diretora
de Cultura da Casa do Cantador
Estrofe da Semana:
Essa mulher tão bonita
Tá modificando a sorte
Com um cigarro na boca
Viajando no transporte
Que a levará com
urgência
Ao Campo Santo da
Morte.
(Pedro Ribeiro)