Minha foto
Teresina, Piauí, Brazil
Associação dos Violeiros e Poetas Populares do Piauí - Casa do Cantador. Fundada em 15 de outubro 1977. Espaço de relevância cultural no Piauí que funciona como Centro de Pesquisa e de apoio a violeiros e poetas populares de vários lugares do Brasil. Localizada na Rua Lúcia, 1419, Bairro Vermelha, Teresina - Piauí - Telefone: (86) 3211-6833 E-mail: casadocantadordopiaui@hotmail.com

sexta-feira, maio 11

ROGACIANO LEITE por Pedro Ribeiro

Estrela cintilante da constelação da poesia, Rogaciano Leite conviveu com a extraordinária safra na qual Domingos Fonseca despontava como a maior expressão do repente da época.
O congresso de cantadores realizado em Fortaleza, em 1948, projetara Domingos Fonseca para a imortalidade e foi exatamente nessa época em que Rogaciano Leite convivia com a fase de ouro do repente e o colocava num pedestal não inferior as estrelas do presente.
De uma formação cultural invejável, depois de ler Castro Alves, Gonçalves Dias, Fagundes Varela, Guerra Junqueiro, Cruz e Sousa e Olavo Bilac foi o suficiente para formar um manancial de invejável cultura poética.
No repente se bateu com os maiores astros do momento com destaque de Domingos Fonseca ao Cego Aderaldo. Nas cantorias que participava tinha pelos colegas o maior respeito.
O jornalista Carlyle Martins se refere a Rogaciano Leite com tanto entusiasmo que transcrevemos sua opinião para melhor análise dos nossos leitores.
“A Musa de Rogaciano Leite veste-se da seda brilhante e colorida das alvoradas e põe nos cabelos os grampos das estrelas e as fitas têm as tonalidades dos crepúsculos.
É ele um emérito improvisador, dizendo versos a propósito de tudo, como um verdadeiro perdulário da inteligência e da imaginação. Derrama cascatas de rimas com uma simplicidade e galhardia que faz a gente vibrar de emoção.
Seus versos ora têm marulhos de oceano, ungidos de tempestades, gritos de ventania, sonoridade de clarins; ora possuem claridade de luar, trinados de pintassilgos, amavios de graúnas, sons de cânticos de sinos, tatalar de asas de seda…”.
Na noite brilhante do Teatro José de Alencar que projetou o piauiense Domingos Fonseca, estava presente Rogaciano Leite, improvisador do maior respeito. Nessa mesma ocasião encontrava-se presente o desembargador Faustino de Albuquerque, governador do Ceará.
Não se sabe por que razão Diegues Júnior deu o mote: Desembargador Faustino / Barbalha lhe pede estrada.
Rogaciano Leite, como todo poeta, não se preocupou com a presença do mandatário cearense e glosou o mote:

“Pobre Barbalha há cem anos
Vive a indiferença exposta,
Se pede tem por resposta
Centenas de desenganos…
Seus filhos fazem mil planos
Porém se reduzem a nada,
De canavial cercada
Chora por seu descortino,
Desembargador Faustino,
Barbalha lhe pede estrada…”

Rogaciano não era apenas um improvisador respeitável e imbatível, mas um poeta dos mais admirados. Seu talento e glória o tempo não apaga e permanecerá em nossas memórias, relembrando as noites memoráveis de seus embates nos gemidos das violas ou na leitura de seus poemas inesquecíveis. Dentre eles vejamos “Ceará Selvagem”:

 Aqui por estas areias
Já correram muitos pés…
Estalaram muitos arcos,
Vibraram muitos borés…
Estes garbosos coqueiros
São fantasmas de guerreiros
Que o tempo não quis matar!
Estas palmeiras delgadas
São índias apaixonadas
Por homens brancos do mar!

Oh! Iracema formosa,
Deusa da raça praiana,
Teu colo emprestou perfume
Às águas de Mecejana!
Meruoca ainda delira…
Maranguape ainda respira
Fragrâncias do teu calor!
Teu pé trigueiro e pequeno
Sobre o rastro de Moreno
Deixou um cheiro de flor!

Oh! Quantos sonhos de virgem
Na tua alma caboca!
Quanto sabor de mangaba
Na concha da tua boca!
Teus braços eram roliços
Como os viçosos caniços
À margem fresca do rio…
Teus olhos eram brilhantes
Como os olhos faiscantes
De algum veado bravio.

Tua fileira de dentes
Exprimia tanta alvura
Como um rosário de estrelas
No colo da noite escura!
Tuas mãos eram pequenas,
Bonitas, quentes, morenas,
Macias como os arminhos,
E no vale dos teus seios
O luar tonto de enleios
Se desfazia em carinhos.

Os campos guardam segredos
Do teu corpo casto e nu,
Banhado na linfa clara
Da linda bica do Ipu!
Teu porte inda vive oculto
Na sombra meiga do vulto
Do coqueiro-catolé…
E a areia branca da praia
Ao cair do sol desmaia
Com saudade do teu pé!

Nenhum comentário:

Postar um comentário