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Teresina, Piauí, Brazil
Associação dos Violeiros e Poetas Populares do Piauí - Casa do Cantador. Fundada em 15 de outubro 1977. Espaço de relevância cultural no Piauí que funciona como Centro de Pesquisa e de apoio a violeiros e poetas populares de vários lugares do Brasil. Localizada na Rua Lúcia, 1419, Bairro Vermelha, Teresina - Piauí - Telefone: (86) 3211-6833 E-mail: casadocantadordopiaui@hotmail.com

sexta-feira, julho 13

Estrofe da Semana:


A corrupção no País
Cada vez mais poderosa
É força destruidora
Que já se tornou famosa
Envolve até os poderes
Na inversão dos deveres
Exigindo cassação
Que valoriza o Senado
O povo diz obrigado
Com toda satisfação.

NASCI OUVINDO REPENTE por Pedro Ribeiro


Tive a felicidade de nascer dia de São Pedro, 29 de junho do ano de 1931, no povoado Baixão dos Ribeiros do município de Teresina hoje Monsenhor Gil.
O detalhe importante da questão é que vim ao mundo ás 18 horas quando meu Pai ascendia a fogueira e os violeiros afinavam as violas para o grande embate do repente.
Destarte, já nasci ouvinte de repente e, com as Graças de Deus, me apaixonei por essa cultura popular que, cerca de 40 anos, preenche minha vida.
No local onde residia moravam dois violeiros: Leocádio e João de Lima que realizavam cantorias todos os sábados, durante o dia e à noite, no terreiro dos moradores da fazenda.
Tive uma infância feliz, acumulando sonhos e traçando planos para o futuro, uma vez que sempre projetei deixar o sertão e cursar os bancos escolares e penetrar nos meandros da arte e da cultura.
Outro capítulo de minha vida me encaminhava para abraçar a cultura popular muito praticada no Baixão dos Ribeiros como: Bumba-Meu-Boi e Reisado, em cujas manifestações tive a oportunidade de integrá-las.
Por volta de 1937, todos os sábados meu Pai mandava um dos seus homens de confiança ─ Luis Nazário ─ vender frutas e rapaduras na feira do povoado Natal hoje cidade de Monsenhor Gil.
Luis Nazário pedia a meus pais para me levar em sua companhia, alegando que eu era um menino esperto e o ajudaria muito nos negócios.
A viagem era muito divertida e, durante o trajeto, Luis Nazário canta as grandes pelejas da época, especialmente, a travada entre Serrador e Carneiro. De tanta repetição consegui decorá-las como formadoras do meu patrimônio cordelista.
Ainda parece ecoar em meus ouvidos:

Carneiro:
Serrador me diga com qual intenção
Você veio aqui sem documento
E quem foi que lhe deu consentimento
Para entrar sem minha ordem no sertão
Nesta terra me conhecem por Sultão
Da cidade de Crato ao Seridó,
Cajazeiras, Rolim e Piancó,
Da Cidade de Marcos à Catingueira,
Em Pombal, Catolé, Patos e Teixeira,
São lugares que o Carneiro brinca só.

Serrado:
Carneiro velho esteja enganado
Que não existe sultão em nossa terra
E no deserto de nossa grande serra
Outro cantor para mim tem escapado
Cantador muito velho habilitado
Em meus pés tem pedido a pabulagem
Homem novo, instruído de coragem,
Tem posto em grande desespero
Uma vez que eu dando em dez carneiro
Ainda não digo a ninguém que fiz vantagem.

Com essa origem humilde e poética eu não poderia me libertar desse mundo cultural que me envolveu. Foi uma decisão da natureza que montou um cenário especial para me acolher no mundo da arte.