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Teresina, Piauí, Brazil
Associação dos Violeiros e Poetas Populares do Piauí - Casa do Cantador. Fundada em 15 de outubro 1977. Espaço de relevância cultural no Piauí que funciona como Centro de Pesquisa e de apoio a violeiros e poetas populares de vários lugares do Brasil. Localizada na Rua Lúcia, 1419, Bairro Vermelha, Teresina - Piauí - Telefone: (86) 3211-6833 E-mail: casadocantadordopiaui@hotmail.com

terça-feira, agosto 2

AS PELEJAS


O encontro de cantadores, no passado, foi marcado pelas famosas pelejas, quase sempre, em desafios para medir o talento dos cantadores.
Era questão de honra conhecer-se o vencedor da porfia, especialmente, porque o vencedor era quem recebia o total da bandeja, isto é, a arrecadação total do encontro.
A temática não tinha a profundeza de hoje onde os preliantes devem demonstrar conhecimento vasto, sobretudo, no que diz respeito aos acontecimentos locais, nacionais e internacionais.
Por outro lado, o repente atual deve conter no seu bojo informações capazes de atender as interrogações da platéia presente, nos mais variados setores da informação.
No passado, a simples preocupação de agredir o adversário com palavras ou colocação de defeitos momentâneos, já satisfazia a multidão presente que vibrava com os desafios de outrora.
Os mais célebres violeiros que o tempo levou ainda permanecem na memória popular. Nomes como: Antonio Marinho, Pinto do Monteiro, Inácio da Catingueira, Romano da Mãe D’Água ilustraram as referências que a memória conservou nas obras que desafiaram o tempo.
Para conhecimento de nossos leitores, reproduzimos um trecho entre Antonio Marinho e Pinto do Monteiro, no sentido de que nossos leitores e estudiosos possam fazer comparações entre o cordel de ontem e de hoje.
 
PM -    Senhor Antonio Marinho,
É chegada a ocasião,
Pergunto, quero saber,
Responda se posso ou não,
Ir atravessar cantando,
Pelo seu alto sertão.

AM -    Pode, seu Pinto, pois não!
Tocar, cantar por aí…
É filho da mesma terra,
Nasceu e criou-se ali,
Mas cuidado com as raposas,
Que há muitas, como aqui.

PM -    Aonde eu chego não há
Prazer que não me apareça,
Raposa que não se esconda,
Brabo que não me obedeça,
Letrado que não me escute,
Cantor que não endoideça.

AM -    Pinto, quem canta comigo,
Faz exame e se confessa,
Eu zangado não abrando,
Mesmo que um santo me peça,
Se houver mais pinto agradeço
Pois este eu pelo depressa.

PM -    A mim o fogo não queima,
Nem tosta e nem me sapeca,
Em mim quem botar a mão
Larga o couro da munheca,
Incha os dedos, cai as unhas,
Murcham os nervos, o braço seca.

AM –   Para o meu Lara sertanejo
Cantor que vem se arrepende,
Encontra os becos tomados,
Pra toda banda que pende,
E, ai do pinto que eu pegá-lo,
Só Deus como Pai defende.

PM –   Marinho, onde eu passo, deixo
Qualquer uma estrada aberta,
Cantor tendo essa notícia,
Com medo de mim se aperta,
Deixa a casa, entra no mato
E a meia noite deserta.

AM –   Monteiro, trata, boi velho,
Mais São Tomé e, enfim,,
E São José do Egito
E o que mais pertence a mim,
Um galo até não se arruma,
Quanto mais um pinto assim.

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