Por mais que se escreva sobre o gênio de Pilar, Mané Xudu,
não é possível esgotar o manancial que a memória guarda sobre um dos maiores
repentistas que o Brasil conheceu e mantém nos arquivos da lembrança como
verdadeira relíquia.
Os versos e o talento de Xudu invadiram o Nordeste com
pelejas travadas com os melhores cantadores da época como: Ivanildo Vila Nova,
Pedro Bandeira e muitos outros.
O público amante do repente promovia cantorias nas fazendas
da região com a presença de Xudu e um convidado especial para desafiá-lo, nas
pelejas que mediam a capacidade de cada um.
O imortal poeta Pedro Bandeira, eleito – Príncipe dos Poetas
Populares – e temido entre os ases do repente da época, encontrou-se com Mané
Xudu numa porfia que o tempo não apaga.
O príncipe dos Poetas Populares iniciou o embate assim:
PB - Mas
você não é romeiro,
Nem comprador de pequi,
Nem carola, nem turista,
Ninguém lhe esperava aqui,
Sem eu lhe dar carta branca
Pra entrar no Cariri.
MX - Eu
vim porque conheci
Que havia necessidade
De conhecer os colegas
Que moram nesta cidade
E saber se o novo príncipe
Tem ou não autoridade.
PB - Saiba
que sou majestade
No
reinado da poesia
Você pra cantar
comigo
Precisa ter
fidalguia,
Nobreza, brio e
respeito,
Honra e aristocracia.
MX - Há
tempo que conhecia
A forma do meu amigo,
Porém eu sou dos
poetas
Que nunca temeu
perigo
E só digo que um
cabra canta
Quando ele canta
comigo.
PB - Você
está no meu abrigo,
Se não quiser passar
fome
Respeite o meu
auditório,
Meu cetro e meu
cognome,
Minha esposa e minha
filha,
Minha platéia e meu
nome.
MX - Acho
bom que você tome
O conselho que lhe
dou,
Estou no seu
auditório,
Mas seu escravo não
sou,
Penetre em qualquer
terreno,
Que se puder também
vou.
PB - O
sangue do meu avô,
No meu sangue inda
evapora,
Me dando idéia e
talento
Entusiasmo e sonora
Pra rebater desaforo
De repentista de
fora.
MX - Com
essa resposta agora
Sei que o jeito que
tem
E eu lhe dar um
acocho,
Que os ossos viram
xerém,
Que canto há vinte e
dois anos
E nunca perdi pra
ninguém.
PB - Eu
nunca perdi também
E agora vou lhe
provar
Que daqui a meia hora
Você começa a chorar,
Troca a viola em
cachaça
E nunca mais fala em
cantar.
MX - É
mais fácil se esgotar
O mar com uma
peneira,
Bala de aço
esmagar-se
Em tronco de bananeira,
Do que Manoel Xudu
Temer a Pedro Bandeira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário