Minha foto
Teresina, Piauí, Brazil
Associação dos Violeiros e Poetas Populares do Piauí - Casa do Cantador. Fundada em 15 de outubro 1977. Espaço de relevância cultural no Piauí que funciona como Centro de Pesquisa e de apoio a violeiros e poetas populares de vários lugares do Brasil. Localizada na Rua Lúcia, 1419, Bairro Vermelha, Teresina - Piauí - Telefone: (86) 3211-6833 E-mail: casadocantadordopiaui@hotmail.com

quinta-feira, julho 14

MANÉ XUDU


Por mais que se escreva sobre o gênio de Pilar, Mané Xudu, não é possível esgotar o manancial que a memória guarda sobre um dos maiores repentistas que o Brasil conheceu e mantém nos arquivos da lembrança como verdadeira relíquia.
Os versos e o talento de Xudu invadiram o Nordeste com pelejas travadas com os melhores cantadores da época como: Ivanildo Vila Nova, Pedro Bandeira e muitos outros.
O público amante do repente promovia cantorias nas fazendas da região com a presença de Xudu e um convidado especial para desafiá-lo, nas pelejas que mediam a capacidade de cada um.
O imortal poeta Pedro Bandeira, eleito – Príncipe dos Poetas Populares – e temido entre os ases do repente da época, encontrou-se com Mané Xudu numa porfia que o tempo não apaga.
O príncipe dos Poetas Populares iniciou o embate assim:


PB -     Mas você não é romeiro,
             Nem comprador de pequi,
Nem carola, nem turista,
Ninguém lhe esperava aqui,
Sem eu lhe dar carta branca
Pra entrar no Cariri.

MX -     Eu vim porque conheci
Que havia necessidade
De conhecer os colegas
Que moram nesta cidade
E saber se o novo príncipe
Tem ou não autoridade.


PB -     Saiba que sou majestade
            No reinado da poesia
Você pra cantar comigo
Precisa ter fidalguia,
Nobreza, brio e respeito,
Honra e aristocracia.

MX -     Há tempo que conhecia
A forma do meu amigo,
Porém eu sou dos poetas
Que nunca temeu perigo
E só digo que um cabra canta
Quando ele canta comigo.

PB -     Você está no meu abrigo,
Se não quiser passar fome
Respeite o meu auditório,
Meu cetro e meu cognome,
Minha esposa e minha filha,
Minha platéia e meu nome.

MX -     Acho bom que você tome
O conselho que lhe dou,
Estou no seu auditório,
Mas seu escravo não sou,
Penetre em qualquer terreno,
Que se puder também vou.

PB -     O sangue do meu avô,
No meu sangue inda evapora,
Me dando idéia e talento
Entusiasmo e sonora
Pra rebater desaforo
De repentista de fora.

MX -     Com essa resposta agora
Sei que o jeito que tem
E eu lhe dar um acocho,
Que os ossos viram xerém,
Que canto há vinte e dois anos
E nunca perdi pra ninguém.

PB -     Eu nunca perdi também
E agora vou lhe provar
Que daqui a meia hora
Você começa a chorar,
Troca a viola em cachaça
E nunca mais fala em cantar.

MX -     É mais fácil se esgotar
O mar com uma peneira,
Bala de aço esmagar-se
Em tronco de bananeira,
Do que Manoel Xudu
Temer a Pedro Bandeira. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário