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Teresina, Piauí, Brazil
Associação dos Violeiros e Poetas Populares do Piauí - Casa do Cantador. Fundada em 15 de outubro 1977. Espaço de relevância cultural no Piauí que funciona como Centro de Pesquisa e de apoio a violeiros e poetas populares de vários lugares do Brasil. Localizada na Rua Lúcia, 1419, Bairro Vermelha, Teresina - Piauí - Telefone: (86) 3211-6833 E-mail: casadocantadordopiaui@hotmail.com

segunda-feira, julho 11

JOÃO FURIBA


João Furiba faz parte da grande constelação de violeiros que encanta o Brasil, pelo talento, criatividade e, sobretudo, pela maneira especial de envolver as plateias, quer nos imortais festivais que o tempo levou, quer nas cantorias de pé de parede que era imbatível.
João Furiba se projetou, no cenário cultural do Nordeste, pelo estilo, exclusivamente seu, de enaltecer-se rico e poderoso, numa autêntica e verdadeira fantasia que, embora hipotética, enriquece sua poesia que o projetou como – João Mentira.
Apesar do estilo próprio, João Furiba era respeitado pelos maiores talentos da poesia popular como: Pinto do Monteiro, Ivanildo Vila Nova, Lourival Batista (os Batistas), Mané Xudu e tantos outros.
Num duelo com Manuel Laurindo que enfatizou sua admiração pelo “Tigre da Mão Torta”, Furiba produziu uma das estrofes mais importantes de sua inesgotável coleção:

“Eu admiro é a barata,
 Saber voar e correr,
 Entra na lata de açúcar
 Bate um baião pra comer.
 O que come é muito pouco,
 Mas bota o resto a perder.”

Lourival Batista um dos maiores repentistas da época, considerado o rei do trocadilho, cantava com João Furiba em Afogados da Ingazeira/PE criticou Furiba porque se fazia acompanhar de sua esposa, terminando uma estância:

“Não gosto do homem que anda
 Com a mulher por toda sua.”

A resposta do João Mentira foi extraordinária, que eu o coloco entre os gênios do repente.

“Pra não fazer como a tua
 Que fica em casa sozinha,
 Entra homem pela sala,
 Sai homem pela cozinha,
 Eu como sou desconfiado
 Pra onde vou, levo a minha.”

Ivanildo Vila Nova herdara do pai José Faustino e era um verdadeiro assombro para os repentistas da região. Seu verso, às vezes, era massacrante contra adversários. Enfrentando João Furiba o desafiou:

“Já estou ficando velho
 De dar em cantor ruim.”

Furiba rápido como um relâmpago, sapecou:

“Teu pai também era assim
 E se dizia professor,
Tudo que lia decorava,
 Usava anel de doutor,
 Cantou trinta e cinco anos,
 Morreu sem ser cantador.”

Nos festivais de Teresina João Furiba deitava e rolava falando de sua riqueza. A plateia vibrava com as respostas de João sobre seu poderio econômico.
Cantando no festival de Teresina Moacir Laurentino interrogou:

“Me responda como vai
 Na criação de caprino.”

No modo de cantoria ninguém suplantava Furiba que deixava a plateia em delírio:

“Tenho quinhentos meninos
 Morando em minha choupana,
 Tratando da criação
 Com capim de gitirana
 Tem cabra que está parindo
 Duas vezes por semana.”




por Pedro Ribeiro

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