MANÉ XUDU
Mané Xudu ocupa um lugar de destaque no pedestal da constelação dos maiores repentistas que o Brasil projetou ao longo dos tempos. Verso fácil, talento inigualável, agilidade mental privilegiada, era diferente dos colegas, na montagem das estrofes.
Xudu fazia uma obra de arte, incomparável, utilizando imagens da maior simplicidade, para formar uma estância de conteúdo extraordinário, falando sobre o sofrimento do sertanejo na batalha da sobrevivência, quando a seca caia, impiedosamente, sobre o Nordeste, escreveu:
Nessa vida atribulada
O camponês se flagela
Chega em casa meia noite
Tira a tampa da panela
Vê o poema da fome
Escrito no fundo dela.
O mistério da transubstanciação da matéria, isto é, a transformação da hóstia no Corpo de Jesus e o Sangue em vinho Xudu improvisou, na cantoria realizada em Teresina, duelando com Juvenal Evangelista e, se reportando sobre o padre Matusalém a estrofe:
Eu admiro muito o padre
Que seu conselho tem luz
Toda sua pregação
Nasce nos braços da cruz
Massa de trigo em mãos dele
Vira corpo de Jesus.
Na mesma cantoria realizada em Teresina, na residência de Zuquinha Félix, numa noite de festa com muita comedoria, Juvenal encerrou uma estrofe, chamando a atenção para os contrastes da vida – enfatizando:
“Tanta comida na mesa
Tanta criança com fome.”
Xudu no embalo que o caracterizava produziu mais uma obra de arte:
Deus querendo, todos comem
Que um dia Ele pregando
Mais de cinco mil pessoas
Que estavam lhe observando
Com cinco pães e dois peixes
Comeram e ficou sobrando.por Pedro Ribeiro
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