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Associação dos Violeiros e Poetas Populares do Piauí - Casa do Cantador. Fundada em 15 de outubro 1977. Espaço de relevância cultural no Piauí que funciona como Centro de Pesquisa e de apoio a violeiros e poetas populares de vários lugares do Brasil. Localizada na Rua Lúcia, 1419, Bairro Vermelha, Teresina - Piauí - Telefone: (86) 3211-6833 E-mail: casadocantadordopiaui@hotmail.com

segunda-feira, dezembro 19

PINTO DO MONTEIRO II – Pedro Ribeiro


Na coluna anterior falamos sobre Pinto do Monteiro, o repentista mais respeitado de sua geração. Além da extraordinária agilidade do destacado violeiro, Pinto se impunha, a todos, pela velocidade de raciocínio e pela franqueza como respondia os insultos dos parceiros. Outra característica que o destacava diante da geração de seu tempo era a franqueza e honestidade como tratava seus negócios e, sobretudo, na seriedade como encarava seus compromissos. 

Por outro lado, o ditado “crie fama e deite na cama”, mais uma vez, confirmado no trabalho que realizamos, isto é, a comparação de talento entre o passado e a nova geração que coloca os atuais improvisadores, muito acima dos ases do passado. Todavia, esse aspecto será analisado posteriormente. Por enquanto vamos continuar divulgando o trabalho poético daquele que encantou as gerações inteiras como o mais festejado violeiro.

Geraldo Amâncio, uma das mais expressivas revelações, enfrenta o gigante Pinto. Na deixa de sua estrofe:
“Meu cavalo onde passa
Vai levando tudo a eito”.

O velho Pinto não se incomodou e sapecou a estrofe seguinte:
“O meu, porém, é dum jeito
Que nem o diabo aguenta,
Entra no mato fechado,
Toda madeira arrebenta,
Dá tapa em bunda de boi
Que a merda sai pela venta”.

José Alves Sobrinho desafiou a fera do repente e fez alusão ao que já foi:

“Pinto não está nem a metade
Do que era na mocidade”

Pinto não gostou e respondeu à altura:
“É o peso da idade
Que no meu lombo monta,
Estou como touro velho
Que já perdeu uma ponta,
Mas com tudo isso, ainda,
Não leva garrote em conta”.

Era como os parceiros mexiam com Pinto para apreciar as respostas. Numa cantoria o colega fazendo alusão aos grandes repentistas de São José do Egito termina uma estrofe:
“Lá tem Job, Louro e Catota,
Os campeões da Ribeira”.

Pinto reage e sapeca essa obra:

“Homem deixe de história
Que se eu for ao Pajeú,
Dou em Job e dou em Louro,
Em Zé Catota e em Tu,
E fico no meio da rua,
Cantando e dançando nu”.

Certa vez numa noitada de viola Pinto acabara de cantar com Cancão quando foi convidado a enfrentar Zé Faustino que se fazia acompanhar de Ivanildo Vilanova. Pinto começou:
“Eu já cantei com Cancão,
Um pássaro do bico fino,
Cantou, voou, foi embora,
Vem agora Zé Faustino,
Com esse eu acabo logo,
Depois enforco o menino”.

Pedro Bandeira cantando com Pinto exaltou a fama do avô Manoel Galdino Bandeira, terminando uma estrofe:
“A maior honra que eu sinto
É ser neto de Galdino”.

Pinto titubeou e sapecou:
“Dessa família Galdino
O cantador foi Bandeira,
Mas a traça deu no pano,
O cupim deu na madeira,
E só deixou quatro netos
      Improvisando besteira”.

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