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segunda-feira, novembro 7

SAUDADE - Pedro Ribeiro


A poesia cordeliana é um verdadeiro tesouro de preciosidades que, às mais das vezes, permanecem nas obscuridades, recitadas aqui e ali por admiradores em ciclos cada vez menores.

É imperioso que essas jóias devem ser publicadas para conhecimento das gerações jovens, uma vez que apenas os sexagenários consomem esse cabedal de conhecimentos que a poeira do tempo já está atirando no esquecimento.

Pelejas que encantaram o sertão e estudadas nas maiores universidades do mundo figuram apenas nas citações de pesquisadores da Literatura de Cordel ou ficam apenas como referências nas teses de mestrado e doutorado.

Para salvar esse verdadeiro tesouro que desafiou o tempo até agora, o estudo do cordel nas escolas é a única forma de salvar essa expressão cultural, além de desenvolver a mente da juventude.

É oportuno mencionar que a experiência realizada em várias unidades escolares ofereceu resultados impressionantes no campo da aprendizagem.

Com a preocupação de oferecer aos nossos leitores, transcrevemos a obra prima do poeta Antonio Pereira de Morais, cognominado “O Poeta da Saudade”.

O poeta paraibano aborda o tema com uma capacidade surpreendente que a literatura cordeliana guarda no tesouro das relíquias que nem o tempo apagará.

Saudade é como cobreiro
Desses que dão na cintura,
Saudade é como lanceta
No peito da criatura,
Tocou no cume se corta
Tocou na ponta se fura.

Quem quiser plantar saudade,
Primeiro escalde a semente,
Depois plante em lugar seco
Onde bata o sol mais quente,
Pois se plantar no molhado
Quando nascer mata gente.

Saudade depois de morta
Inda nasce eu dou a prova,
Quem duvidar plante e faça
Um fogo em cima da cova
E com três dias vá vê
Se a saudade não renova.

Quando nos vê a cauã
Cantar seis horas da tarde,
Em cima de um alto monte,
Triste que faz piedade,
Já está cantando, coitada,
Pra não morrer de saudade.

 Saudade é como a resina,
No amor de quem padece,
O pau que resina muito
Quando não morre adoece,
É como quem tem saudade
Não morre, mas não esquece.

Um grito triste, à tardinha
Toda montanha estremece,
Todo passado renova,
Toda saudade aparece,
O velho abaixa a cabeça,
Fica triste, a lágrima desce.

Saudade tem cinco fios
Puxando a eletricidade,
Um na alma, outro no peito,
Um amor, outro amizade,
O derradeiro a lembrança
Dos dias da mocidade.

Até nos brutos se vê
Que a mãe ao filho quer bem,
Morre o bezerro e a vaca
Pelos desgostos que tem
Se abusa até com o dono,
Num dá mais leite a ninguém.

Saudade é um parafuso
Que na rosca quando cai,
Só entra se for torcendo,
Porque batendo num vai
E enferrujando dentro
Nem destorcendo num sai.

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