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sexta-feira, outubro 28

ANTONIO MARINHO – 30/10/2011 - Pedro Ribeiro


Vamos falar de um dos maiores repentistas que o Brasil projetou no cenário da literatura cordeliana. Estilo próprio e imbatível nas porfias que realizou quer nas cantorias de pé de parede, quer no palco dos festivais que o tempo arquivou nos anais do passado.
 
Cognominado “Faraó do Reino dos Cantadores de São José do Egito, em Pernambuco”, Antonio Marinho foi, efetivamente, um dos gênios que orgulha e imortaliza o repente brasileiro.

A estrofe seguinte traduz bem o nome que o poeta projetou:

“Este grande Faraó
No governo se finou
E durante o seu Reinado
Sempre foi glorificado
Nas festas da poesia,
Nas guerras da cantoria
Nenhum rei o derrotou,
Mas “Morto o Rei, Viva o Rei”.
É um princípio real
Terminado o funeral,
Rezadas as incelências,
E o grande morto plantado,
Passado o tempo do dó,
No trono foi confirmado
O Segundo Faraó…”


Consta que Antonio Marinho foi o único repentista que venceu Pinto do Monteiro no duelo, em desafio, travado com o assombro dos violeiros.

Conforme informações, os versos seguintes foram do encontro de Pinto do Monteiro com Antonio Marinho, vencido pelo último.


Pinto - Senhor Antonio Marinho,
É chegada a ocasião,
Pergunto, quero saber,
Responda se posso ou não,
Ir atravessar cantando,
Pelo seu alto sertão.

      Marinho -  Pode, seu Pinto, pois não!
Tocar, cantar por aí…
É filho da mesma terra,
Nasceu e criou-se ali,
Mas cuidado com as raposas,
Que há muitas lá, como aqui.

Pinto - Aonde eu chego não há 
Prazer que não me apareça,
Raposa que não se esconda,
Brabo que não me conheça,
Letrado que não me escute,
Cantor que não endoideça.

      Marinho -  Pinto, quem canta comigo,
Faz exame e se confessa,
Eu zangado não abrando,
Mesmo que um santo me peça,
Se houver mais Pinto apareça
Pois este eu pelo depressa.

 Pinto - A mim o fogo não queima,
Nem tosta e nem me sapeca,
Em mim quem botar a mão
Larga o couro da munheca,
Incha os dedos, cai as unhas,
Murcham os nervos, o braço seca.

      Marinho -  Para o meu lar sertanejo
Cantor que vem se arrepende,
Encontra os becos tomados,
Pra toda banda que pende.
E, ai do pinto que eu pegá-lo,
Só Deus como pai defende.

Pinto - Marinho onde eu passo deixo
Qualquer uma estrada aberta,
Cantor tendo essa notícia,
Com medo de mim se aperta,
Deixa a casa, entra no mato
E a meia noite deserta.

      Marinho -  Monteiro, Prata, Boi Velho,
Mais São Thomé e, enfim,
Em São José do Egito
E o que mais pertence a mim,
Um galo até não se arruma,
Quanto mais um Pinto assim.
 
            Pinto - Eu chegando em São Thomé,
                       Acabo com aquela asneira…
                       Monteiro, Prata, Boi Velho,
                       Um ano não tem mais feira
                       E se eu for a São José,
                       Chove pau, pinga madeira.

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