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Teresina, Piauí, Brazil
Associação dos Violeiros e Poetas Populares do Piauí - Casa do Cantador. Fundada em 15 de outubro 1977. Espaço de relevância cultural no Piauí que funciona como Centro de Pesquisa e de apoio a violeiros e poetas populares de vários lugares do Brasil. Localizada na Rua Lúcia, 1419, Bairro Vermelha, Teresina - Piauí - Telefone: (86) 3211-6833 E-mail: casadocantadordopiaui@hotmail.com

sexta-feira, janeiro 6

DESAFIO DO PASSADO por Pedro Ribeiro


A história do repente mostra que o encontro dos velhos repentistas do Nordeste difere bastante das pelejas de hoje. A arte de improvisar sofreu sérias modificações, no tempo e no espaço. A cantoria foi enriquecida com a criação de inúmeros estilos.

Por outro lado, a temática se atualizou com a exigência da urbanização do repente e a alfabetização dos violeiros. A mídia teve papel importante na valorização e atualização dos conceitos debatidos nos encontros dos improvisadores do momento mais preocupados com os problemas da violência, da corrupção, do desnível social e das transformações naturais da sociedade.

Os repentistas de hoje acompanham os noticiários de rádios e jornais para se atualizarem com os acontecimentos do planeta, uma vez que os motes pedidos pela plateia enfocam temas modernos e de maior profundidade que exigem dos preliantes uma formação cultural atualizada.

As próprias novelas servem de referência para cantoria que, no momento, deve atender o espírito de curiosidade dos presentes a par dos fatos e acontecimentos informados pela mídia. Vamos apreciar um trecho do desafio travado entre José Gustavo e Rouxinha da Bahia. Observem a diferença entre a cantoria do passado e a que hoje se pratica.


RB -    Senhor Gustavo sou neta
Do Roxinho da Bahia,
Como cantor em seu tempo,
Foi um dos melhores que havia,
Faleceu e dele herdei
Dom, agrado e simpatia.

JG -     Ouvi dizer que Rouxinho
Foi bom cantador, outrora,
Se sua cova se abrisse
E ele aparecesse agora,
Eu tinha menos receio
Do que cantar com a senhora.

RB -    Tenha remendo ou não tenha,
Na peleja perca ou ganhe,
Aperte os botões da calça,
Brinque, prose e não se acanhe,
Que eu hoje canto até missa
Se achar quem me acompanhe.

JG -     A senhora hoje faz tudo,
Porque está entre os seus,
Eu me humilho como Jó
O poeta dos hebreus,
Porque só tenho por mim,
Viola, garganta e Deus.

RB -    Ainda você estando
Dos anjos arrodeado,
São Miguel de espada em punho,
Santo de todos os lado,
Eu dava-lhe um chá de pisa
Que você está precisado.

JG -     Dona Rouxinha eu lhe aviso
Quem luta contra o José,
Tem ânsia, dor de barriga,
Fica sem ânimo e fé,
Cai o queixo, entorta a língua,
Perde o nariz, seca o pé.

RB -    Eu zangada subo pedra
Veloz que só lagartixa,
Pego onça pela cauda,
E tiro o couro da bicha,
Derreto negro no tacho,
Tiro a pele e faço lixa.

JG -     Roxa, tu derrete outro,
Não é um igual a eu,
Porque para derreter-me,
Mulher inda não nasceu,
Se nasceu com esse plano,
Deu-lhe a leseira e morreu.

RB -    Cantor pra cantar comigo,
Precisa ter teoria,
Conhecer aritmética,
Estudar filosofia,
Discriminar consciente
Gramática e geografia.

JG -     Eu garanto que a senhora
Não analisa gramática,
Que é um livro teórico,
De certeza matemática
Não é pra um burro que apenas
            Come capim pela prática.

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