No dia consagrado à cultura a Associação dos Poetas
Populares de Timon e Região dos Cocais realizou o I FESTIVAL DE VIOLEIROS DE TIMON. O evento representa o esforço que se realiza no sentido da
preservação da Literatura de Cordel e, sobretudo do repente mais presente e com
maior força no Nordeste.
O Maranhão é considerado um estado poético, homenagem que se
presta a Gonçalves Dias cujas obras foram produzidas tendo o Quadrão como suporte
maior da inspiração do poeta gonçalvino. Parece, todavia, que as novas gerações maranhenses não se
preocuparam na manutenção do sentimento poético, tanto que, no Nordeste, o
Maranhão é o estado mais fraco da
literatura cordeliana.
Nos demais estados nordestinos, o repente continua como
manifestação cultural mais presente. Inúmeros festivais são realizados nas
capitais e cidades interioranas com uma presença de público surpreendente. Desde que ingressei no movimento de regaste da Literatura de
Cordel, cujo esforço foi incorporado pelo Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia,
Pernambuco e Paraíba, que o Maranhão ficou totalmente omisso. Esperamos que a iniciativa de Timon seja o marco inicial de
integração da Terra Gonçalviana ao trabalho que todos realizamos para que o
repente continue, cada vez mais, forte para não deixar morrer a cultura que
serviu de berço para o desenvolvimento das manifestações culturais.
O I FESTIVAL DE TIMON
contou com a participação dos violeiros Antonio Marques, Joaquim da Matta,
Nonatinho, Antonio Pereira, Raimundo Britto, Toinha Brito, Manoel Lucas, João
Batista e Aureliano dos Santos que se revezaram em apresentações para o público
que compareceu ao ginásio de esportes da Praça São Benedito na vizinha cidade
de Timon/MA. A arte de fazer repente é um verdadeiro milagre. Quanto mais
penetramos no conhecimento da métrica concluímos que é impossível explicar como
o repentista cria um galope à beira-mar com a mais rigorosa técnica do
improviso.
Aos oitenta anos dedicamos nossa vida ao estudo do repente e
não conseguimos explicar o porquê de tanta inteligência na perfeição de
elaborar estrofes que, escrevendo já é quase impossível, quanto mais
improvisando. O extraordinário não reside apenas na montagem das estrofes,
mas, especialmente, na agilidade mental de dar respostas imediatas a
interrogações que assustam a alma. Num duelo de dois gigantes foi questionada a virgindade de
Maria. A resposta imediata como o relâmpago que corta o espaço foi
surpreendente:
A Virgem Nossa Senhora
É pura e cheia de graça
O Cristo passou por Ela
Como o sol pela vidraça.
Não vamos analisar a estância em atenção à capacidade de
nossos leitores, mas não podemos deixar
de externar nossa maior admiração e respeito aos violeiros. Perguntado em que a Mãe de Cristo se comparava à de Judas, o
gênio do improviso Domingos Fonseca, respondeu:
Toda mãe por qualquer filho
Se iguala num só amor
As mães: de Cristo e de Judas
Sofreram a mesma dor
Uma pelo filho justo
A outra pelo traidor.
São essas manifestações do repentista que nos conduziram
pelos caminhos do repente para melhor compreendermos como Deus os fez
diferentes.
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