João Furiba faz parte
da grande constelação de violeiros que encanta o Brasil, pelo talento,
criatividade e, sobretudo, pela maneira especial de envolver as plateias, quer
nos imortais festivais que o tempo levou, quer nas cantorias de pé de parede
que era imbatível.
João Furiba se
projetou, no cenário cultural do Nordeste, pelo estilo, exclusivamente seu, de
enaltecer-se rico e poderoso, numa autêntica e verdadeira fantasia que, embora
hipotética, enriquece sua poesia que o projetou como – João Mentira.
Apesar do estilo
próprio, João Furiba era respeitado pelos maiores talentos da poesia popular
como: Pinto do Monteiro, Ivanildo Vila Nova, Lourival Batista (os Batistas),
Mané Xudu e tantos outros.
Num duelo com Manuel
Laurindo que enfatizou sua admiração pelo “Tigre da Mão Torta”, Furiba produziu
uma das estrofes mais importantes de sua inesgotável coleção:
“Eu admiro é a
barata,
Saber voar e correr,
Entra na lata de açúcar
Bate um baião pra comer.
O que come é muito pouco,
Mas bota o resto a perder.”
Lourival Batista um
dos maiores repentistas da época, considerado o rei do trocadilho, cantava com
João Furiba em Afogados da Ingazeira/PE criticou Furiba porque se fazia
acompanhar de sua esposa, terminando uma estância:
“Não gosto do homem
que anda
Com a mulher por toda sua.”
A resposta do João
Mentira foi extraordinária, que eu
o coloco entre os gênios do repente.
“Pra não fazer como a
tua
Que fica em casa sozinha,
Entra homem pela sala,
Sai homem pela cozinha,
Eu como sou desconfiado
Pra onde vou, levo a minha.”
Ivanildo Vila Nova
herdara do pai José Faustino e era um verdadeiro assombro para os repentistas
da região. Seu verso, às vezes, era massacrante contra adversários. Enfrentando
João Furiba o desafiou:
“Já estou ficando
velho
De dar em cantor ruim.”
Furiba rápido como um
relâmpago, sapecou:
“Teu pai também era
assim
E se dizia professor,
Tudo que lia
decorava,
Usava anel de doutor,
Cantou trinta e cinco anos,
Morreu sem ser cantador.”
Nos festivais de Teresina
João Furiba deitava e rolava falando de sua riqueza. A plateia vibrava com as
respostas de João sobre seu poderio econômico.
Cantando no festival
de Teresina Moacir Laurentino interrogou:
“Me responda como vai
Na criação de caprino.”
No modo de cantoria
ninguém suplantava Furiba que deixava a plateia em delírio:
“Tenho quinhentos
meninos
Morando em minha choupana,
Tratando da criação
Com capim de gitirana
Tem cabra que está parindo
Duas vezes por
semana.”
por Pedro Ribeiro