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Teresina, Piauí, Brazil
Associação dos Violeiros e Poetas Populares do Piauí - Casa do Cantador. Fundada em 15 de outubro 1977. Espaço de relevância cultural no Piauí que funciona como Centro de Pesquisa e de apoio a violeiros e poetas populares de vários lugares do Brasil. Localizada na Rua Lúcia, 1419, Bairro Vermelha, Teresina - Piauí - Telefone: (86) 3211-6833 E-mail: casadocantadordopiaui@hotmail.com

domingo, agosto 5

Estrofe da Semana:


O Brasil apreensivo
No processo mensalão
Resultado negativo
Deixa descrente a Nação
Com a palavra o Supremo
Pra julgar um caso extremo
Que abalou o País
Porém se forem culpados
No processo condenados
O povo fica feliz.

O QUE MUDOU NO VIOLEIRO Pedro Ribeiro

Os primeiros anos de minha vida na fazenda Baixão dos Ribeiros, zona rural de Teresina hoje Monsenhor Gil.
Nessa fase adorável de minha infância, tive a oportunidade de conhecer e sentir a beleza do repente que exerceu e continua tendo uma notável importância em meus sentimentos e minhas atividades culturais.
Já falei que foi o agregado de meu pai Luis Nazário, nas viagens feitas, aos sábados, para a feira de Natal que tive o ensejo de apreciar o talento de Serrador e Carneiro num extraordinário duelo em Martelo Agalopado que, ainda hoje, parece cochichar em meus ouvidos.
Não bastasse essa motivação, assisti inúmeras cantorias realizadas nos terreiros dos moradores do sítio-fazenda ou mesmo no patamar de minha residência.
Por outro lado, Deus foi muito generoso comigo, dotando meu pai de especial inspiração cordeliana, pois apesar de não ter sido violeiro para sair duelando em viagens pelo sertão sabia, com sua viola, produzir estrofes encantadoras.
Aliás, meus antepassados ou tinha forte inspiração poética ou davam integral proteção aos escravos e moradores que possuíam habilidade na arte do improviso.
Um dos meus tios conhecido como Mendes possuía um escravo que era um repentista respeitado pelo talento que o capacitava a derrotar os adversários.
Era comum, na época da escravidão que os escravos ao se apresentarem dizer o seu nome, o nome do seu dono e o nome da propriedade na qual residia. Daí o escravo violeiro se apresentava com Anjo Mendes do Condado.
Certa vez, cantava na residência do seu protetor com o famoso repentista Mandapulão quando uma galinha passa correndo em frente à dupla. Era a vez de Anjo Mendes do Condado, improvisar. Vejam que obra-de-arte:

Da galinha eu gosto muito
De certos pedaços dela
Duas asas, duas coxas,
Dois coxões e a titela,
Pescoço com sobrebunda,
Coração, figo e moela.

Naquela época, os violeiros andavam de fazenda em fazenda, geralmente, com chapéu de couro, cantando para os coronéis ou eram convidados por proprietários que os mandava busca-los em montarias de cavalos ou burros.
Tudo mudou. Os atuais ases do repente andam de carro próprio, de avião ou mesmo de ônibus, participando de festivais ou realizando cantorias a preço justo.
Destaque-se também que os violeiros analfabetos estão em extinção e, uma boa parcela deles já cursou ou cursa as universidades.