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Teresina, Piauí, Brazil
Associação dos Violeiros e Poetas Populares do Piauí - Casa do Cantador. Fundada em 15 de outubro 1977. Espaço de relevância cultural no Piauí que funciona como Centro de Pesquisa e de apoio a violeiros e poetas populares de vários lugares do Brasil. Localizada na Rua Lúcia, 1419, Bairro Vermelha, Teresina - Piauí - Telefone: (86) 3211-6833 E-mail: casadocantadordopiaui@hotmail.com

sexta-feira, novembro 25

Estrofe da Semana:


Socorro subiu ao céu
Foi viver junto a Jesus
Na bondade foi troféu
Na caridade uma luz
Na Casa Santa de Deus
Orando amor para os seus
No santuário da vida
A morte é simples oráculo
Caminho para o pináculo
Do pecado protegida.

CURSO DE CORDEL por Pedro Ribeiro


O curso de cordel ministrado pelo Ponto de Cultura “Casa do Cantador” em parceria com o SESC está revelando poetas-mirins cujo talento tem surpreendido os ministrantes dos ensinamentos. É oportuno salientar que o objetivo maior do curso é o desenvolvimento das faculdades mentais, sobretudo da memória, juízo, raciocínio, criatividade e, especialmente, a agilidade mental.

Por outro lado, já está comprovado que o aluno de cordel conquista um aproveitamento mais eficiente nos estudos cujas notas representam a confirmação inequívoca dessa verdade. Tudo teve início quando vim estudar em Teresina. No lugar, onde nasci, povoado “Baixão dos Ribeiros”, no município de Teresina hoje Monsenhor Gil, um agregado de meu pai de nome Luís Nazário, todos os sábados íamos para a feira do então povoado Natal, vender frutas e rapaduras.

Durante toda viagem Luís Nazário declamava a peleja de Serrador e Carneiro, além de cantar vários romances de cordel: Os Doze Pares de França, Tenente Zé Garcia, Juvenal e o Dragão, Coco Verde e Melancia, No Reino do Barro Branco, Peleja de Cego Aderaldo com Zé Pretinho, etc. Além de cantar todo esse notável arquivo, enriquecia o patrimônio da cultura popular, improvisava estrofes falando da viagem e, produzindo verdadeiros monumentos de improviso que chamavam minha atenção e despertavam minha veia poética no sentido de seguir as estradas do repente.

Ao deixar o velho povoado para vir estudar em Teresina já tinha gravado na memória mais de trinta folhetos de cordel, além de começar a produzir as primeiras estrofes sem o conhecimento da métrica cordeliana, isto é, já fazia versos de pé-quebrado. Na escola onde iniciei o antigo curso primário ninguém falava em repente e a palavra cordel era totalmente desconhecida. Assim, totalmente afastado de minhas origens, sentia muita saudade das cantorias e das viagens a Natal na companhia do velho Luis Nazário.

A arte é capaz de sobreviver mesmo debaixo da maior hostilidade. Deste modo, eu não podia cantar os meus romances nem tentar fazer improvisos. Passei por uma grande frustração até que ingressei no Velho Liceu Piauiense, o colégio mais rigoroso da época, com professores que eram medidos pelo grande número de reprovação que faziam. Naquela época, ao responder as provas, perguntava-se aos professores se podia respondê-las em verso, no que obtinha permissão. Ao final do curso científico, da época, fui escolhido o melhor aluno do Liceu por uma determinação do Ministro Cândido Mota Filho que mandou escolher o melhor aluno de cada estado, tendo como referência os liceus da época.
Assim sendo fui representar o Piauí ao lado dos colegas de cada estado, como um prêmio de incentivo aos melhores alunos do Brasil. No Rio de Janeiro fomos hóspedes da Presidência da República cujo presidente era Café Filho. Quando estamos no Rio de Janeiro, o coordenador da excursão – Salzano – recebeu um convite do governador de Minas Gerais – Juscelino Kubitscheck, solicitando a presença dos estudantes do Brasil para participarem da solenidade de aniversário do Governo.
O então governador já havia lançado sua candidatura à Presidência da República, inclusive já havia estado no Piauí onde participou de monumental comício. Tive, nessa oportunidade, uma emoção muito grande que quase me deixa imóvel. Para surpresa o cerimonial anunciou a palavra do estudante do Piauí para saudar o futuro presidente, em nome do Brasil. Fiquei muito feliz com tamanha honraria, pois toda mídia nacional e estrangeira gravou o meu pronunciamento. O mais importante foi o agradecimento de Juscelino que discursou chorando, o que emocionou a todos os presentes. Minha foto foi publicada, em primeira página, nos grandes jornais da época.
Nessa viagem prêmio também tive a oportunidade de falar, em nome do Brasil, para saudar o Ministro da Educação, professor Cândido Mota Filho. Na visita ao Palácio do Catete, o Presidente Café Filho cumprimentou a todos os estudantes com os quais conversou. Ao falar com o representante do Piauí, demorou-se ao fazer um verdadeiro interrogatório. Perguntou minha impressão sobre o futuro do Brasil. Declarei que havia ficado impressionado com minha colocação externando seu contentamento a todos os presentes. A viagem que também se prolongou a São Paulo onde nos mostraram a grandeza paulistana, os monumentos, sobretudo o do Grito do Ipiranga, no qual tiraram fotos para posteridade.

O de que mais gostei na excursão foi a viagem de trem ao cruzar a Serra da Mantiqueira nas primeiras horas da manhã cujas imagens nunca as esqueci.

quinta-feira, novembro 17

Estrofe da Semana:

Há uma lei infinita
Da qual não há exceção
E todo povo acredita
Sem fazer contestação
Assim todos morreremos
E nunca transmitiremos
O que há depois da morte
Faz parte da Providência
Seguido da onipotência
É um mistério sem sorte.

DA MORTE PARA A VIDA - Pedro Ribeiro


Uma vida de vitórias,
Mas repleta de tormentos
Foi um caminho de lutas
Formando seus sentimentos
Moldada pelo destino
Desde os tempos de menino
Nas estradas tortuosas
Verdadeiros desafios
Perseguições e suplícios,
Mas conquistas virtuosas.

Os gênios nascem marcados
Para enfrentar tempestades,
Mas são por Deus amparados
Pra superar as maldades
Deusdedit soube traçar
Para o futuro moldar
Estratégias e conquistas
Mesmo invertendo valores
Entre gemidos e dores
Com decisões altruístas.

Foi nos bancos escolares
Onde nasceu seu respeito
As ideias luminares
Raciocínio perfeito
Colegas o admiravam
Professores preparavam
Um gênio para o futuro
Os caminhos da ciência
Formavam uma inteligência
Para um trabalho seguro.

Nos estudos do direito
Foi a sua formação
Pra defender a justiça
Com amor, com isenção
Nos meandros da verdade
Cultivava a liberdade
O seu maior compromisso
Sem se deixar dominar
Nem o suborno aceitar
Nem tão pouco ser omisso.

 A luta nos tribunais
Renderam-lhe projeção
Na ciência do direito
Na análise da questão
Com muita sabedoria
Projetava a advocacia
Entregava para Deus
Sem praticar injustiça
Os olhos na fé castiça
Com muito amor para os seus.

Foi muito feliz no amor
Das conquistas a maior
Floriano deu-lhe a flor
Pra seu jardim ser melhor
Só lhe ofertou maravilhas
O belo de duas filhas
Plantou-lhe no coração
A certeza da amizade
Caminho da eternidade
Oráculo da oração.

No palco da natureza
No colo de duas serras
Deus o mandou com certeza
Para premiar as terras
Deusdedit ali nasceu
O futuro o recebeu
Para cumprir a missão
No peso do sofrimento
Pelas leis do sentimento
Conquista-se a salvação.

As conquistas da Ciência
Todas foram impotentes
Contra as leis da providência
Não há homens competentes
Numa luta de seis meses
Oramos diversas vezes
Na esperança do milagre
Verdadeiro sacrifício
Se transformando em suplício
Até que a morte o consagre.

 Partiu do mundo sorrindo
Como quem ganha um troféu
As portas foram se abrindo
Para chegada no céu
No desafio da morte
Venceu e ficou mais forte
O céu é consagração
Deixa o mundo do pecado
Deusdedit foi premiado
Conquistou a salvação.

“Se a morte fosse o fim
A vida não tinha brilho
Jesus foi Mestre e Filho
E a todos falou assim:
Não se esqueçam de mim
Que lhes darei o perdão
Ouvirei a oração
Que for a mim dirigida
Deus da morte outra vida
Para glorificação”.

Estrofe da Semana:

A morte é um mistério
Que só a graça de Deus
É capaz de entender
O porque dos filhos seus
Quem morre parte ficando
Ao mesmo tempo levando
Segredos da morte e vida
Porque nascemos, morremos
De tudo nada entendemos
Somente “A Triste Partida”.

FESTIVAL DE TIMON – 13/11/2011 por Pedro Ribeiro


No dia consagrado à cultura a Associação dos Poetas Populares de Timon e Região dos Cocais realizou o I FESTIVAL DE VIOLEIROS DE TIMON. O evento representa o esforço que se realiza no sentido da preservação da Literatura de Cordel e, sobretudo do repente mais presente e com maior força no Nordeste.

O Maranhão é considerado um estado poético, homenagem que se presta a Gonçalves Dias cujas obras foram produzidas tendo o Quadrão como suporte maior da inspiração do poeta gonçalvino. Parece, todavia, que as novas gerações maranhenses não se preocuparam na manutenção do sentimento poético, tanto que, no Nordeste, o Maranhão é o estado mais fraco  da literatura cordeliana.

Nos demais estados nordestinos, o repente continua como manifestação cultural mais presente. Inúmeros festivais são realizados nas capitais e cidades interioranas com uma presença de público surpreendente. Desde que ingressei no movimento de regaste da Literatura de Cordel, cujo esforço foi incorporado pelo Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia, Pernambuco e Paraíba, que o Maranhão ficou totalmente omisso. Esperamos que a iniciativa de Timon seja o marco inicial de integração da Terra Gonçalviana ao trabalho que todos realizamos para que o repente continue, cada vez mais, forte para não deixar morrer a cultura que serviu de berço para o desenvolvimento das manifestações culturais.

O I FESTIVAL DE TIMON contou com a participação dos violeiros Antonio Marques, Joaquim da Matta, Nonatinho, Antonio Pereira, Raimundo Britto, Toinha Brito, Manoel Lucas, João Batista e Aureliano dos Santos que se revezaram em apresentações para o público que compareceu ao ginásio de esportes da Praça São Benedito na vizinha cidade de Timon/MA. A arte de fazer repente é um verdadeiro milagre. Quanto mais penetramos no conhecimento da métrica concluímos que é impossível explicar como o repentista cria um galope à beira-mar com a mais rigorosa técnica do improviso.

Aos oitenta anos dedicamos nossa vida ao estudo do repente e não conseguimos explicar o porquê de tanta inteligência na perfeição de elaborar estrofes que, escrevendo já é quase impossível, quanto mais improvisando. O extraordinário não reside apenas na montagem das estrofes, mas, especialmente, na agilidade mental de dar respostas imediatas a interrogações que assustam a alma. Num duelo de dois gigantes foi questionada a virgindade de Maria. A resposta imediata como o relâmpago que corta o espaço foi surpreendente:

A Virgem Nossa Senhora
É pura e cheia de graça
O Cristo passou por Ela
Como o sol pela vidraça.

Não vamos analisar a estância em atenção à capacidade de nossos leitores, mas não podemos deixar  de externar nossa maior admiração e respeito aos violeiros. Perguntado em que a Mãe de Cristo se comparava à de Judas, o gênio do improviso Domingos Fonseca, respondeu:

Toda mãe por qualquer filho
Se iguala num só amor
As mães: de Cristo e de Judas
Sofreram a mesma dor
Uma pelo filho justo
A outra pelo traidor.

São essas manifestações do repentista que nos conduziram pelos caminhos do repente para melhor compreendermos como Deus os fez diferentes.

segunda-feira, novembro 7

Estrofe da Semana:

Processo sem conclusão
Deve ser investigado
Dúvida não é direito
Não pode ter condenado
Todos queremos saber
Criminoso há de ter
Não há crime sem autor
É preciso descobri-lo
Para julgar e puni-lo
Dentro dum justo rigor.

SAUDADE - Pedro Ribeiro


A poesia cordeliana é um verdadeiro tesouro de preciosidades que, às mais das vezes, permanecem nas obscuridades, recitadas aqui e ali por admiradores em ciclos cada vez menores.

É imperioso que essas jóias devem ser publicadas para conhecimento das gerações jovens, uma vez que apenas os sexagenários consomem esse cabedal de conhecimentos que a poeira do tempo já está atirando no esquecimento.

Pelejas que encantaram o sertão e estudadas nas maiores universidades do mundo figuram apenas nas citações de pesquisadores da Literatura de Cordel ou ficam apenas como referências nas teses de mestrado e doutorado.

Para salvar esse verdadeiro tesouro que desafiou o tempo até agora, o estudo do cordel nas escolas é a única forma de salvar essa expressão cultural, além de desenvolver a mente da juventude.

É oportuno mencionar que a experiência realizada em várias unidades escolares ofereceu resultados impressionantes no campo da aprendizagem.

Com a preocupação de oferecer aos nossos leitores, transcrevemos a obra prima do poeta Antonio Pereira de Morais, cognominado “O Poeta da Saudade”.

O poeta paraibano aborda o tema com uma capacidade surpreendente que a literatura cordeliana guarda no tesouro das relíquias que nem o tempo apagará.

Saudade é como cobreiro
Desses que dão na cintura,
Saudade é como lanceta
No peito da criatura,
Tocou no cume se corta
Tocou na ponta se fura.

Quem quiser plantar saudade,
Primeiro escalde a semente,
Depois plante em lugar seco
Onde bata o sol mais quente,
Pois se plantar no molhado
Quando nascer mata gente.

Saudade depois de morta
Inda nasce eu dou a prova,
Quem duvidar plante e faça
Um fogo em cima da cova
E com três dias vá vê
Se a saudade não renova.

Quando nos vê a cauã
Cantar seis horas da tarde,
Em cima de um alto monte,
Triste que faz piedade,
Já está cantando, coitada,
Pra não morrer de saudade.

 Saudade é como a resina,
No amor de quem padece,
O pau que resina muito
Quando não morre adoece,
É como quem tem saudade
Não morre, mas não esquece.

Um grito triste, à tardinha
Toda montanha estremece,
Todo passado renova,
Toda saudade aparece,
O velho abaixa a cabeça,
Fica triste, a lágrima desce.

Saudade tem cinco fios
Puxando a eletricidade,
Um na alma, outro no peito,
Um amor, outro amizade,
O derradeiro a lembrança
Dos dias da mocidade.

Até nos brutos se vê
Que a mãe ao filho quer bem,
Morre o bezerro e a vaca
Pelos desgostos que tem
Se abusa até com o dono,
Num dá mais leite a ninguém.

Saudade é um parafuso
Que na rosca quando cai,
Só entra se for torcendo,
Porque batendo num vai
E enferrujando dentro
Nem destorcendo num sai.