O curso de cordel ministrado pelo
Ponto de Cultura “Casa do Cantador” em parceria com o SESC está revelando
poetas-mirins cujo talento tem surpreendido os ministrantes dos ensinamentos. É
oportuno salientar que o objetivo maior do curso é o desenvolvimento das
faculdades mentais, sobretudo da memória, juízo, raciocínio, criatividade e,
especialmente, a agilidade mental.
Por
outro lado, já está comprovado que o aluno de cordel conquista um
aproveitamento mais eficiente nos estudos cujas notas representam a confirmação
inequívoca dessa verdade. Tudo
teve início quando vim estudar em Teresina. No lugar, onde nasci, povoado “Baixão dos Ribeiros”, no município
de Teresina hoje Monsenhor Gil, um agregado de meu pai de nome Luís Nazário,
todos os sábados íamos para a feira do então povoado Natal, vender frutas e
rapaduras.
Durante
toda viagem Luís Nazário declamava a peleja de Serrador e Carneiro, além de
cantar vários romances de cordel: Os Doze Pares de França, Tenente Zé Garcia,
Juvenal e o Dragão, Coco Verde e Melancia, No Reino do Barro Branco, Peleja de
Cego Aderaldo com Zé Pretinho, etc. Além de cantar todo esse notável
arquivo, enriquecia o patrimônio da cultura popular, improvisava estrofes
falando da viagem e, produzindo verdadeiros monumentos de improviso que
chamavam minha atenção e despertavam minha veia poética no sentido de seguir as
estradas do repente.
Ao deixar o velho povoado para
vir estudar em Teresina já tinha gravado na memória mais de trinta folhetos de
cordel, além de começar a produzir as primeiras estrofes sem o conhecimento da
métrica cordeliana, isto é, já fazia versos de pé-quebrado. Na escola onde iniciei o antigo
curso primário ninguém falava em repente e a palavra cordel era totalmente
desconhecida. Assim, totalmente afastado de minhas origens, sentia muita
saudade das cantorias e das viagens a Natal na companhia do velho Luis Nazário.
A arte é capaz de sobreviver
mesmo debaixo da maior hostilidade. Deste modo, eu não podia cantar os meus
romances nem tentar fazer improvisos. Passei por uma grande frustração até que
ingressei no Velho Liceu Piauiense, o colégio mais rigoroso da época, com
professores que eram medidos pelo grande número de reprovação que faziam. Naquela época, ao responder as
provas, perguntava-se aos professores se podia respondê-las em verso, no que
obtinha permissão. Ao final do curso científico, da época, fui escolhido o
melhor aluno do Liceu por uma determinação do Ministro Cândido Mota Filho que
mandou escolher o melhor aluno de cada estado, tendo como referência os liceus
da época.
Assim sendo fui representar o
Piauí ao lado dos colegas de cada estado, como um prêmio de incentivo aos
melhores alunos do Brasil. No Rio de Janeiro fomos hóspedes da Presidência da
República cujo presidente era Café Filho. Quando estamos no Rio de Janeiro,
o coordenador da excursão – Salzano – recebeu um convite do governador de Minas
Gerais – Juscelino Kubitscheck, solicitando a presença dos estudantes do Brasil
para participarem da solenidade de aniversário do Governo.
O então governador já havia
lançado sua candidatura à Presidência da República, inclusive já havia estado
no Piauí onde participou de monumental comício. Tive, nessa oportunidade, uma
emoção muito grande que quase me deixa imóvel. Para surpresa o cerimonial
anunciou a palavra do estudante do Piauí para saudar o futuro presidente, em
nome do Brasil. Fiquei muito feliz com tamanha
honraria, pois toda mídia nacional e estrangeira gravou o meu pronunciamento. O
mais importante foi o agradecimento de Juscelino que discursou chorando, o que
emocionou a todos os presentes. Minha foto foi publicada, em primeira página,
nos grandes jornais da época.
Nessa viagem prêmio também tive a
oportunidade de falar, em nome do Brasil, para saudar o Ministro da Educação,
professor Cândido Mota Filho. Na visita ao Palácio do Catete, o Presidente Café
Filho cumprimentou a todos os estudantes com os quais conversou. Ao falar com o
representante do Piauí, demorou-se ao fazer um verdadeiro interrogatório.
Perguntou minha impressão sobre o futuro do Brasil. Declarei que havia ficado
impressionado com minha colocação externando seu contentamento a todos os
presentes. A viagem que também se prolongou a São Paulo onde nos mostraram a
grandeza paulistana, os monumentos, sobretudo o do Grito do Ipiranga, no qual
tiraram fotos para posteridade.
O de que mais gostei na excursão foi a viagem de
trem ao cruzar a Serra da Mantiqueira nas primeiras horas da manhã cujas
imagens nunca as esqueci.