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Teresina, Piauí, Brazil
Associação dos Violeiros e Poetas Populares do Piauí - Casa do Cantador. Fundada em 15 de outubro 1977. Espaço de relevância cultural no Piauí que funciona como Centro de Pesquisa e de apoio a violeiros e poetas populares de vários lugares do Brasil. Localizada na Rua Lúcia, 1419, Bairro Vermelha, Teresina - Piauí - Telefone: (86) 3211-6833 E-mail: casadocantadordopiaui@hotmail.com

sexta-feira, outubro 28

Estrofe da Semana:


Esse caso da Fernanda
Falta ser esclarecido
Pois, a consciência manda,
Que nada fique escondido.
Há outros casos ocultos
Donizete com mais vultos
Com falta de punição
Deixando o povo descrente
Pedimos sinceramente
Da Justiça! A solução.
            (Pedro Ribeiro)

ANTONIO MARINHO – 30/10/2011 - Pedro Ribeiro


Vamos falar de um dos maiores repentistas que o Brasil projetou no cenário da literatura cordeliana. Estilo próprio e imbatível nas porfias que realizou quer nas cantorias de pé de parede, quer no palco dos festivais que o tempo arquivou nos anais do passado.
 
Cognominado “Faraó do Reino dos Cantadores de São José do Egito, em Pernambuco”, Antonio Marinho foi, efetivamente, um dos gênios que orgulha e imortaliza o repente brasileiro.

A estrofe seguinte traduz bem o nome que o poeta projetou:

“Este grande Faraó
No governo se finou
E durante o seu Reinado
Sempre foi glorificado
Nas festas da poesia,
Nas guerras da cantoria
Nenhum rei o derrotou,
Mas “Morto o Rei, Viva o Rei”.
É um princípio real
Terminado o funeral,
Rezadas as incelências,
E o grande morto plantado,
Passado o tempo do dó,
No trono foi confirmado
O Segundo Faraó…”


Consta que Antonio Marinho foi o único repentista que venceu Pinto do Monteiro no duelo, em desafio, travado com o assombro dos violeiros.

Conforme informações, os versos seguintes foram do encontro de Pinto do Monteiro com Antonio Marinho, vencido pelo último.


Pinto - Senhor Antonio Marinho,
É chegada a ocasião,
Pergunto, quero saber,
Responda se posso ou não,
Ir atravessar cantando,
Pelo seu alto sertão.

      Marinho -  Pode, seu Pinto, pois não!
Tocar, cantar por aí…
É filho da mesma terra,
Nasceu e criou-se ali,
Mas cuidado com as raposas,
Que há muitas lá, como aqui.

Pinto - Aonde eu chego não há 
Prazer que não me apareça,
Raposa que não se esconda,
Brabo que não me conheça,
Letrado que não me escute,
Cantor que não endoideça.

      Marinho -  Pinto, quem canta comigo,
Faz exame e se confessa,
Eu zangado não abrando,
Mesmo que um santo me peça,
Se houver mais Pinto apareça
Pois este eu pelo depressa.

 Pinto - A mim o fogo não queima,
Nem tosta e nem me sapeca,
Em mim quem botar a mão
Larga o couro da munheca,
Incha os dedos, cai as unhas,
Murcham os nervos, o braço seca.

      Marinho -  Para o meu lar sertanejo
Cantor que vem se arrepende,
Encontra os becos tomados,
Pra toda banda que pende.
E, ai do pinto que eu pegá-lo,
Só Deus como pai defende.

Pinto - Marinho onde eu passo deixo
Qualquer uma estrada aberta,
Cantor tendo essa notícia,
Com medo de mim se aperta,
Deixa a casa, entra no mato
E a meia noite deserta.

      Marinho -  Monteiro, Prata, Boi Velho,
Mais São Thomé e, enfim,
Em São José do Egito
E o que mais pertence a mim,
Um galo até não se arruma,
Quanto mais um Pinto assim.
 
            Pinto - Eu chegando em São Thomé,
                       Acabo com aquela asneira…
                       Monteiro, Prata, Boi Velho,
                       Um ano não tem mais feira
                       E se eu for a São José,
                       Chove pau, pinga madeira.

segunda-feira, outubro 24

O GÊNIO DE CANCÃO – 23/10/2011 - Pedro Ribeiro


Dos poetas populares que tive o ensejo de lê-lo, o que mais me impressionou foi, inegavelmente, o gênio apelidado de “Cancão”.
 
Estilo suave, vocabulário acima de sua formação escolar, “Cancão” brincava com as rimas, produzindo verdadeiras obras de arte.

Seus versos têm o sabor do mel virgem das corolas, o encanto das noites enluaradas, a musicalidade das cascatas e a força das correntezas cortando o solo duro das serras para galgar as campinas e deslizarem enfeitando a natureza.

Estilo inconfundível e imagens que encantam aos que se deleitam nas leituras de suas estrofes encantadoras que a arte não permite reproduzi-las.

O gênio de “Cancão” é próprio e impar. Apreciar suas estrofes é se relacionar com a beleza da arte na formatação da estética própria dos deuses.

Oferecemos aos nossos leitores a oportunidade de desfrutarem do talento do gênio que permanece sem repetição.

Poema “Dois Coqueiros”:


Testemunhas seculares
Do outro lado do rio
Rumor das brisas lunares
Nas calmas noites de estio,
Foram vigias das feras
Venceram eras e eras
Se tornaram centenários,
Os seus bulícios tristonhos
Tinham a doçura dos sonhos
De mil poemas lendários.

Com prazeres recebiam
O pequeno rouxinol
Eram os primeiros que viam
A face alegre do sol,
Sentiram das mesmas mágoas
Beberam das mesmas águas
Queimados do mesmo pó,
Colheram o mesmo sereno
Viveram num só terreno
Nasceram num dia só.

Com todo viço aumentaram
As duas plantas vizinhas
Em pouco tempo chegaram
Ao mundo das andorinhas
Neve, chuva e cerração,
Frio, sereno e verão
Nada disso os atingiram,
Vencedores das idades
Nem as próprias tempestades
Tempo algum lhes aluíram.

As aragens perpassavam
Brandas ou mais violentas
Eles, os dois conversavam,
Numas frases barulhentas
Receberam temporais
Deslocamentos fatais
Por brusco arrojo dos ventos,
Viveram nestes combates
Lutando contra os embates
Da força dos elementos.

Assim aqueles coqueiros
Cheios de viço e enganos
Se tornaram dois guerreiros
Foram lutar contra os anos,
Um e outro em homenagem
Nas bafagens da aragem
Estendia a palha sua
Cada fronde verde e bela
Conservava uma parcela
Da luz serena da lua.

Suas palhas sussurrantes
Continham graça e beleza
Dois monstruosos gigantes
Criados da natureza,
Desde a fronde às raízes
Todas suas cicatrizes
Foram profundas feridas
Cada uma marca uma história
Uma medalha, uma glória,
De cem batalhas vencidas.

Em certos dias marcados
Choveu torrencialmente
Foram os dois abraçados
Por poderosa corrente,
Um rodava, outro pendia
A água se remexia
Numa fúria de dragão,
O mais fraco já vencido
Num arrojo desmedido
Caiu sem ter salvação.

Ficou o outro coqueiro
Em meio da corrente em pé
Como se fosse um guerreiro
Sem esperança e sem fé,
Se balançava, tremia,
Tombava, depois erguia,
Entre o furor do perigo,
Ia morrer se dispunha
Como a maior testemunha
Da morte do seu amigo.

No horroroso fragor
Já se mostrava pendido
Sentiu faltar-lhe o vigor
Foi ficando esmorecido,
E a água em borbotão
Fazia revolução
Da superfície à areia
Caiu no mesmo momento
Ao impulso violento
Das sacudidas da cheia.

As grandes vagas caudais
Desciam ligeiramente,
Sem ter resistência mais
Se lançou sobre a corrente,
O aguaceiro o levou
Junto do outro deixou
Por um ligeiro desvio
Ficaram os dois encostados
Os quais estão sepultados
Do outro lado do rio.

sexta-feira, outubro 14

Estrofe da Semana:


O final da nossa vida
Ou cedo ou tarde acontece.
Seria bom, se a morte
Levasse a gente e trouxesse,
A pessoa sem fiança
Toda vez que ela quisesse.
                        (Xudu)