Vamos falar de um dos maiores repentistas que o Brasil
projetou no cenário da literatura cordeliana. Estilo próprio e imbatível nas
porfias que realizou quer nas cantorias de pé de parede, quer no palco dos
festivais que o tempo arquivou nos anais do passado.
Cognominado “Faraó do Reino dos Cantadores de São José do
Egito, em Pernambuco”, Antonio Marinho foi, efetivamente, um dos gênios que
orgulha e imortaliza o repente brasileiro.
A estrofe seguinte traduz bem o nome que o poeta projetou:
“Este grande Faraó
No governo se finou
E durante o seu Reinado
Sempre foi glorificado
Nas festas da poesia,
Nas guerras da cantoria
Nenhum rei o derrotou,
Mas “Morto o Rei, Viva o Rei”.
É um princípio real
Terminado o funeral,
Rezadas as incelências,
E o grande morto plantado,
Passado o tempo do dó,
No trono foi confirmado
O Segundo Faraó…”
Consta que Antonio Marinho foi o único repentista que venceu
Pinto do Monteiro no duelo, em desafio, travado com o assombro dos violeiros.
Conforme informações, os versos seguintes foram do encontro
de Pinto do Monteiro com Antonio Marinho, vencido pelo último.
Pinto - Senhor Antonio Marinho,
É chegada a
ocasião,
Pergunto, quero
saber,
Responda se posso
ou não,
Ir atravessar
cantando,
Pelo seu alto
sertão.
Marinho - Pode, seu Pinto, pois
não!
Tocar, cantar por
aí…
É filho da mesma
terra,
Nasceu e criou-se
ali,
Mas cuidado com
as raposas,
Que há muitas lá,
como aqui.
Pinto - Aonde eu chego não há
Prazer que não me
apareça,
Raposa que não se
esconda,
Brabo que não me
conheça,
Letrado que não
me escute,
Cantor que não
endoideça.
Marinho - Pinto, quem canta
comigo,
Faz exame e se
confessa,
Eu zangado não
abrando,
Mesmo que um santo
me peça,
Se houver mais
Pinto apareça
Pois este eu pelo
depressa.
Pinto - A mim o fogo não queima,
Nem tosta e nem
me sapeca,
Em mim quem botar
a mão
Larga o couro da
munheca,
Incha os dedos,
cai as unhas,
Murcham os
nervos, o braço seca.
Marinho - Para o meu lar sertanejo
Cantor que vem se
arrepende,
Encontra os becos
tomados,
Pra toda banda
que pende.
E, ai do pinto
que eu pegá-lo,
Só Deus como pai
defende.
Pinto - Marinho onde eu passo deixo
Qualquer uma
estrada aberta,
Cantor tendo essa
notícia,
Com medo de mim
se aperta,
Deixa a casa,
entra no mato
E a meia noite
deserta.
Marinho - Monteiro,
Prata, Boi Velho,
Mais São Thomé e,
enfim,
Em São José do
Egito
E o que mais
pertence a mim,
Um galo até não
se arruma,
Quanto mais um
Pinto assim.
Pinto - Eu chegando em São Thomé,
Acabo com aquela asneira…
Monteiro, Prata, Boi Velho,
Um ano não tem mais feira
E se eu for a São José,
Chove pau, pinga madeira.