A poesia popular ainda é vista com desprezo e
insignificância. Os intelectuais não lhe atribuem o menor valor. Existem os que
a depreciam lhe retirando qualquer valor artístico ou poético.
A sensibilidade artística é quem define quem sabe, quem conhece,
quem pode enunciar-lhe valor no campo da análise que deve ser realizada para o
conceito verdadeiro da poesia.
É triste e, às vezes, inconcebível testemunhar-se e assistir-se
pessoas que após reduzir a poesia popular a nada, teçam elogios a Camões cujos
escritos foram feitos num gênero de poesia popular denominado: “Oitavas de
Martelo”.
Vamos mostrar algumas estrofes, produzidas de improviso,
para perguntar: é poesia?
Jô Patriota glosando o mote de Raimundo Asfora: “Eu quero
teus seios puros / Na concha das minhas mãos.”
“Esses teus seios pulados
Nossos olhos insultando
São dois carvões faiscando
No fogão dos meus pecados
São dois punhais aguçados
Ameaçando os cristãos
Mas, meus lábios pagãos
São dois sapotis maduros
Eu quero teus seios puros
Na concha das minhas.”
Não posso esconder que sou um apaixonado pelo repente.
Escrever versos, consultando dicionário, riscando palavras e substituindo-as já
é a maravilha poética e, improvisar sem condições de trocar palavras ou
substituir versos é ou não é um fenômeno que deve ser, pelo menos, respeitado.
Numa cantoria em São José do Egito, em Pernambuco, Antonio
de Catarina deu o mote que Jô Patriota glosou: “Na frieza da gruta o Deus
Menino / Teve o bafo de um boi por cobertor.”
“Num recanto afastado de Belém
Fora onde uma Virgem Imaculada
Deu a luz à pessoa mais sagrada
Que se chamou de Cristo, O Sumo Bem…
Nessa noite Maria um prazer tem
De rezar o rosário com fervor
Contemplando seu fruto, O Redentor
Santo Corpo Sacrário Pequenino
Na frieza da gruta o Deus Menino
Teve o bafo de um boi por cobertor.”
“Foi assim que o rebento de Maria
No silêncio da simples manjedoura
Teve a mãe como santa defensora
E seu pai adotivo como guia
Nessa pobre e humilde hospedaria
Estalagem pequena sem valor
Entre pedra, capim, garrancho e
flor,
Diferente de um prédio bizantino
Na frieza da gruta o Deus Menino
Teve o bafo de um boi por cobertor.”